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Le Sens Inverse

A exibição do Instituto Últimos Refúgios no Le 6B, na região de Saint-Denis, ao norte de Paris na França, consistiu na instalação de um ambiente especialmente produzido e criado pelo coletivo Expurgação para proporcionar a experiência de imersão em um ambiente natural aos seus visitantes, sendo essa a essência da vivência das equipes de campo do Últimos Refúgios.

Do lado de fora, na entrada, um grande projetor dispara o filme UMA, de Alexandre Barcelos, em uma série de árvores, fazendo dessa estrutura natural uma tela de cinema. As imagens do filme, a natureza microscópica e macro, paisagens urbanas e pessoas, sintonizavam-se com o conceito da exibição, texto de curadoria e o cartaz, desenvolvido por Wérllen Castro, contextualizando o visitante para a exibição ‘Le Sens Inverse’, e estabelecendo o paralelo a cerca dos refúgios dos animais (a natureza preservada) e o refúgios dos humanos (a cidade).

Quem chegava próximo à instalação não podia ver o pequeno universo existente ali, oculto pelo manto branco. Era possível apenas ouvir sons de insetos, pássaros, água corrente e anfíbios, sendo esses estímulos sonoros da natureza, capturados na mata fechada por Huemerson Leal e Arthur Navarro, sons que são antípodas aos muros sonoros existentes nos arredores de Paris, gerados pelos motores de automóveis que cruzam essas rodovias.

As duas entradas elípticas no manto branco convidavam todos a entrar na instalação. Antes da abertura, que aconteceu pontualmente às 21 horas, momento em que acontecia o pôr-do-sol em Saint-Denis e que o coletivo Expurgação se preparava pra tocar no anfiteatro do Fabrique à Rêves, dezenas de pessoas já se aglomeravam na entrada, rodeando o local afim de saber o que se passava ali, ansiosos para adentrar nesse universo paralelo criado pelo coletivo Expurgação sobre a ação realizada pelo Instituo Últimos Refúgios nas áreas de preservação natural do estado do Espírito Santo.

No lado de dentro da instalação, passando cuidadosamente pela entrada, o visitante era envolvido por outra atmosfera, onde estímulos diversos vinham de todos os lados ao encontro de seus vários sentidos. Em meio aos caminhos de terra fofa, inspirados nas práticas de identificação de pegadas de animais nas trilhas das matas fechadas, o toque dos pés dos visitantes agora estavam sobre um terreno diferenciado e hostil de certa maneira, pois, rodeados por galhos e vegetações, era preciso estar atento por onde andavam, ao exemplo de como acontece na mata fechada.

Através da visão é possível contemplar as fotografias de Leonardo Merçon que, transbordando vida em cores, permitiam que o visitantes enxergassem e vislumbrassem o universo natural cartografado pelo olhar ágil e sensível do fotógrafo capixaba, ao passo em que o cheiro de mato preenchia todo o ambiente.

As pinturas de animais diversos, em escala ampliada, realizadas em carvão pelos artistas Huemerson Leal, Reinaldo Guedes, Clément Vergè e Francisco Neto, ambientaram as paredes internas da instalação, impressionando pela grandeza de animais que geralmente são pequenos e quase imperceptíveis aos olhos humanos. Dessa maneira, pode ser lançado um olhar sobre essas pinturas que a interpretem como ecos de animais que outrora habitaram áreas naturais que foram degradadas com a prática de desmatamento e queimadas por parte do bicho homem.

Projeções de vídeos da câmera-trap, câmera remota instalada na mata e desenvolvida por Leonardo Merçon e Vitor Perim, também estavam expostas na exibição. Esses vídeos retratam momentos de animais em seu ambiente natural, o qual atraiam a atenção de todos, que quedavam atônitos contemplando fragmentos da natureza existente do outro lado do Atlântico. Mas os visitantes não ficavam apenas quietos, e o furor dentro da instalação era intenso e caloroso. Muitos tiraram fotos, filmaram, sentiram o local com suas mãos e corpos, sentando no mato, deitando, aproveitando o momento junto aos amigos e desconhecidos.

Não demorou muito para alguém começar a fazer um som em meio a essa paisagem aconchegante e convidativa, e a interação musical de visitantes com os expurgacionistas, e vice-versa, se deu de forma natural, espontânea e satisfatória, percebida no reflexo do semblante de cada pessoa presente. O movimento intenso de pessoas perdurou por aproximadamente 6 horas, permitindo que dezenas e centenas de pessoas participassem da experiência Le Sens Inverse.

Agradecemos aqui a toda a equipe do Le6b, aos residentes Alain, Gonzague, Yoann, Max, Marion, Jean Marc, Arbed, Zsofie, Matilde, Severine, Clement, Delphine, Felippe, Dorotee, Mathieu, Julien e a todos que de alguma forma nos ajudaram nessa empreitada.

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