Um Breve Panorama Sobre a História dos Computadores
“Assim como a máquina a vapor interferiu no modo como Marx, Nietzche e Freud pensaram a história, hoje o computador é um desses dispositivos técnicos pelos quais percebemos o mundo, não apenas no plano empírico, mas também num plano transcendental. A experiência pode ser estruturada pelo computador”.
Pierre Lévy
Um Breve Panorama Sobre a História dos Computadores
A necessidade de se obter dados através de máquinas mecânicas foi a base fundamental sobre a qual se deu o desenvolvimento das máquinas digitais contemporâneas. Para entender mais sobre os computadores e sua importância na transformação da comunicação como conhecemos, é preciso voltar sobre a linha do tempo e observar a evolução das máquinas ao longo da história.
Desta maneira remontamos à Mesopotâmia de 5 mil anos atrás quando fora inventado o ábaco, uma espécie de calculadora artesanal. Nenhuma engenharia muito complexa foi empregada nesse instrumento, entretanto sua simplicidade contribuiu para o desenvolvimento de civilizações como a Suméria, China e Índia. Esses povos prosperaram em diversos campos dos saberes ao exemplo da astronomia avançada, da arquitetura rebuscada e do pioneirismo na impressão de seus conhecimentos, realizadas em tábuas de argila e papiros.
Muitos milênios após o feito dos orientais, mais precisamente no ano 100 a.C., foi produzido um complexo mecanismo composto por um sistema extremamente elaborado de engrenagens, intitulado posteriormente de “mecanismo de Anticítera”. Essa máquina foi encontrada por pescadores em 1901 no mar Mediterrâneo, próximo à ilha grega de Anticítera, e estava completamente corroída. Graças à tecnologia do raio-x foi possível desvendar as finalidades desse mecanismo de mais de 2 mil anos, e os resultados são assombrosos.
Com uma engenharia semelhante a de um relógio, porém infinitamente mais elaborado, esse antigo mecanismo servia para realizar tarefas diversas, como calcular movimentos astronômicos com extrema precisão, ao exemplo de eclipses solares e lunares passados e futuros, os movimentos dos planetas, a translação da Terra, a revolução da Lua, bem como o ciclo de quatro anos das olimpíadas. Uma ferramenta de tamanha complexidade só seria concebível na Europa a partir do século XIV, o que explicita o valor inestimável dessa obra para a história da humanidade.
A partir da visualização do vídeo sobre o mecanismo de Anticítera reconstruído a partir de peças Lego, o qual pode ser conferido aqui, e também da animação 3D baseada em suas peças originais, ficará mais claro o entendimento sobre sua funcionalidade.
Adiantando-se sobre a linha do tempo ao ano de 1642, encontramos o francês Blaise Pascal concluindo a ‘primeira’ calculadora mecânica do mundo, intitulada La Pascalina. Essa máquina era simples e realizava apenas tarefas de adição e subtração. É impressionante pensar que há aproximados 800 anos da concepção dessa máquina, o ‘mecanismo de Anticítera’ realizava projeções astronômicas extremamente complexas. Essas duas invenções levantam questionamentos sobre a evolução do homem e sua relação com o tempo, provando que um povo antigo na concepção linear do tempo não é, necessariamente, um povo atrasado em relação a suas criações.
Os séculos XVIII e XIX foram cruciais para o desenvolvimento da nossa necessidade pelas máquinas e suas exepcionais capacidades motoras. A revolução industrial disseminou a estrutura que moldou a economia e a sociedade do mundo todo. No século XX, Herman Hollerith foi o responsável por inventar um sistema de contabilização de dados que utilizava cartões perfurados, agilizando as atividades e permitindo mais atividades em menor espaço de tempo. Essa invenção é considerada um dos primeiros passos em direção à programação e o moderno processamento de informações, e foi implementada nos primeiros computadores.
Posteriormente, a segunda guerra mundial contribuiu para impulsionar a corrida tecnológica devido a necessidade para se calcular trajetórias de bombas, ou decodificar mensagens secretas. Para essas e outras finalidades surgiu o ENIAC (Electronic Numerical Integrator Computer), uma máquina tão grande que ocupava um prédio inteiro, e era constituida por milhares de válvulas para poder fazer funcionar seus inúmeros circuitos lógicos.
Essas máquinas colossais se miniaturizaram na aurora da década de 50, com a invenção do transístor, creditada aos cientistas John Bardeen e Walter Houser Brattain, dos Laboratórios Bell Telephone – fundada por Graham Bell em 1875 – e atualmente conhecida como AT&T. Essas novas tecnologias possibilitaram a criação do microchip como qual conhecemos hoje: pequeno, delicado e extremamente complexo.
No final dos anos 1950, durante a Guerra Fria, uma corrida tecnológica e espacial foi protagonizada pela União Soviética e os EUA. Com isso, os cientistas eram incentivados a produzir tecnologias cada vez menores e com maior potência, afim de equipar os satélites e as naves espaciais, tornando-as mais leves para serem lançadas além da termosfera.
O ato de transformar os computadores em ferramentas cada vez menores e mais potentes fez com que ele fosse desenvolvido para uso civil, permitindo uma popularização dessa tecnologia. Esse grande passo deu-se em 1965, com o lançamento do primeiro computador a caber em mesas de trabalho: o PDP-8 da DEC. Assim que começou a ser comercializada, essa máquina de 18.000 doláres foi incorporada a vários escritórios e laboratórios científicos.
Mas foi somente na transição da década de 70 para 80 que a Inteligência Artificial – a ciência que desenvolve ferramentas tecnólogicas que se apoiam no pensamento humano – foi consagrada como parte do dia-a-dia das pessoas. As empresas IBM, Microsoft e Apple tiverem um papel importantíssimo na disseminação dos computadores, uma máquina que aliada à Internet mudou para sempre o modo de emitir e receber informações.