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Rastreando a Poesia Visual

Ter a noção de que o homem viveu em uma realidade primitiva na qual a escrita era desconhecida reforça a ideia de que as pinturas rupestres podem ter sido os primeiros e únicos poemas puramente visuais, que utilizaram uma fala sem palavras, isso se considerarmos a existência desses poemas puramente visuais.

De fato o poema é um objeto consolidado pela invenção da escrita e fundamentado no conjunto de signos gráficos, nos sinais fonéticos e na intenção de comunicar, ou pelo menos de documentar.

Atualmente há o consenso de que poesia visual é um fenômeno poético do século 20 que se destacou pela integração da linguagem verbal com a visual. Esse fenômeno foi claramente uma conseqüência da Revolução Industrial, principalmente da sua segunda fase a partir de 1850. Entre as grandes mudanças ocorridas na virada do século podemos destacar o panorama visual das grandes cidades, as disputas por mercados, os avanços tecnológicos e científicos, além da instituição dos meios de comunicação de massa como responsáveis pela profusão informacional do “mundo futurista”. Nesse período surgiram diversos movimentos culturais, pioneiros da arte e da cultura e europeia: Expressionismo, art nouveau, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo. Todos esses movimentos contribuíram de alguma forma para o ressurgimento da literatura visual dos poemas.

Símeas de Rodes, 300 a.C.

Os primeiros poemas visuais apontados pelas vanguardas foram feitos na Grécia clássica, com Símias de Rodes e Dosíades de Creta. Os versos dos poemas acompanhavam a forma de objetos (flauta, martelo, ovo). Denominada “poesia figurativa”, também foi produzida na Idade Média pelo clero graças aos avanços das técnicas de impressão. Somar elementos gráficos a textos, poesia ou palavras, era a ação que materializava os poemas visuais naquele momento, comenta o pesquisador e poeta Philadelpho Menezes.

Your Majesties, Joshua Sylvester, 1621

Depois da Idade Média houve um novo surto da poesia visual através da obra “The Arte of English Poesie”. Existem dúvidas sobre o verdadeiro autor dessa obra – dizem George Puttenham ou simplesmente Puttenham. Ela foi concebida em três livros: “Of Poets and Poesie”, “Of Proportion Poetical”, “Of Ornament”, em 1589. Eles tratam das dimensões da linguagem apresentando textos versificados, figuras de linguagem e formas gráficas como o losango e a torre. Era uma tentativa de despertar poetas e escritores para uma estrutura de linguagem melodiosa e persuasiva, mas também tratava de ciência, decência e direito. Apesar dessa tentativa, somente no século 19 houve uma busca mais aprofundada sobre o universo da poesia e do poema.

Le Portugais, Georges Braque, 1911

O ressurgimento do poema visual no final do Século 19 foi influenciado diretamente pela Revolução Industrial, mas também se deveu à arte de Pablo Picasso, líder do movimento cubista que transformou utopia em realidade, obtendo a ilusão do volume numa superfície plana, sem precedentes. “A arte é uma mentira que nos ensina a compreender a verdade. Pelo menos aquela verdade que nós, como homens, somos capazes de compreender”, palavras de Picasso. Picasso influenciou Georges Braque que, posteriormente, se transformou em um importante porta voz do cubismo. Além disso, introduziu as letras na obra de arte pela primeira vez em 1911. Essa inovação na pintura foi explorada e difundida pelo movimento que também generalizou o uso de colagens de papéis, sendo esses recortes de jornais impressos. Logo, a inscrição tipográfica passou a ser empregada pela maioria dos adeptos do cubismo e se transformou em uma característica que representa a aproximação da linguagem pictórica com a linguagem verbal.

Manifestação Intervencionista, Carlo Carrà, 1914

A pintura utilizava os signos da escrita, mas a escrita pouco se movimentava na direção da pintura. Contudo, o Futurismo Italiano passou a experimentar mais profundamente as relações visuais com elementos da escrita. Destaque para os estudos realizados anteriormente pelo filósofo Ernest Fenollosa, até 1897, que apresentou a cultura oriental para o ocidente através da recuperação de artefatos japoneses e estudos de filosofia e poesia chinesas (ideogramas). Assim, a produção literária superficialmente explorada passou a ser trabalhada pela vanguarda futurista que iniciou o movimento da literatura em direção aos espaços ocupados pelas demais artes. “A poesia em contrapartida, avança sobre os espaços tradicionalmente ocupados pelas outras artes: lança mão de elementos visuais para criar a poesia visual, utiliza a natureza oral da palavra falada para criar a denominada poesia sonora”, explica Philadelpho Menezes.

Após o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o movimento futurista se dissolveu completamente, mesmo assim teve grande repercussão no mundo, inclusive no Modernismo brasileiro anunciado pela Semana de Arte Moderna em 1922. Devido a sua importância histórica, o futurismo é considerado o primeiro movimento organizado da poesia visual.

Confira uma narrativa do percurso da visualidade poética, por Sheila Maués.

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