Poética da Mitologia 1/2
A linguagem poética foi bastante utilizada nos textos históricos das antigas civilizações. De fato esses textos são crônicas que tiveram origem na Suméria, por volta de 3.800 a.C. Essas crônicas revelam histórias fantásticas de deuses e homens, muitas vezes descrevem guerras e primitivos eventos terrestres explorando a visualidade das ações e dos acontecimentos vividos.
Por exemplo, podemos citar o Épico de Gilgamesh, uma série de contos sobre o “semi-deus” Gilgamesh e sua busca pela imortalidade. Temos conhecimento dessas crônicas através de descobertas de placas de argila contendo inscrições cuneiforme, muitas dessas provas mostram que o ano 2.160 a.C. inaugurou um período áureo de grande desenvolvimento sumeriano. Alguns pesquisadores acreditam que a escrita cuneiforme serviu inicialmente para documentar inventários e quantificar posses, embora os achados arqueológicos mais preservados façam parte de uma narrativa histórica sem precedentes – que começou há 450.000 a.C.
Além da obra “documentativa”, os sumérios se dedicaram às atividades produtivas e comerciais. Assim, o desenvolvimento descentralizado da civilização nas margens dos Rios Tigre e Eufrates criou naturezas divergentes entre a cultura das mais importantes cidades-estado da Suméria (Eridu, Ur, Kish, Nippur, Lagash, Umma, Uruk, Acádia, Sippar ). Por exemplo, em 2.371 a.C., os acádios aperfeiçoaram o sistema cuneiforme empregando símbolos pictográficos e novas representações para termos semitas. A consolidação da Babilônia (2.024 a.C.) e da Assíria (1.950) causaram sucessivas mudanças no sistema de escrita semita, mesmo assim, a linguagem poética continuou sendo utilizada nas escrituras mesopotâmicas emanando uma estética de valorização da mensagem “divinizada” – o que mostra um compromisso (do escriba, do outorgante?) com a confiabilidade e relevância do conteúdo da informação.
A transformação da escrita também se deveu à pictografia, principalmente aos pictogramas egípcios introduzidos há cerca de 3.200 a.C. Os hieróglifos egípcios e suas respectivas vertentes hierática (sacerdotal) e demótica (do povo) se mostraram funcionas para a organização política e para fins sacerdotais. Por isso, outros povos seguiram esse sistema, como por exemplo, os hititas, civilização que povoou a região da atual Turquia e que deixou importantes provas históricas utilizando uma linguagem mista (cuneiforme e pictográfica) – inclusive a passagem encontrada na bíblia que relata o dilúvio.
Os hieróglifos egípcios eram quase exclusivamente utilizados como uma escritura sagrada, assim como a hierática servia para fins eclesiásticos, e, ao contrário disso, a escrita demótica servia para fins vulgares. Por isso, a vertente hierática foi a única capaz de se adaptar às influências estrangeiras, devido sua utilização formalizada e inclusiva. Esse sistema triádico preparou terreno para o surgimento da escrita alfabética grega com 24 letras.
Coincidência ou não, por volta de 2.100 a.C., menos de um século depois do período áureo sumeriano, surgiram civilizações isoladas do eixo do Mediterrâneo, como por exemplo, as misteriosas Civilizações Olmeca e Inca. Essas civilizações também praticaram uma poética historicista dedicada à influência dos deuses na vida dos homens, expressando gratidão e respeito aos deuses. A semelhança linguística (pictogramas) e arquitetônica, entre o zigurate sumério e as pirâmides dos Impérios Inca, Maia e Asteca, são sinais de que esses povos acessaram a mesma fonte de conhecimento (ou tiveram contato com esse conhecimento através de viajantes?).
No Mediterrâneo, de 1.500 à 300 a.C., o sistema de escrita consonantal foi legitimado pelas cidades-estado fenícias. Destaque para a distinta “república” etrusca que preservou os traços mais originais da cultura suméria, eternizada pelos artefatos e dissolvida juntamente com o Império da Babilônia. Temas históricos recorrentes de novos acontecimentos davam substância para a produção de textos narrativos e poéticos, como por exemplo, as Guerras Médicas sustentadas pelo Império Persa contra o domínio grego no Mediterrâneo liderado por Atenas. A vitória dos gregos, que contrariou os oráculos dos deuses, abriu caminho para a unificação dos idiomas locais na Grécia, mas também indicou que os feitos seriam cada vez mais heróicos e menos divinos. O ateniense Arquino, em 403 a.C., selou a unificação do idioma grego fazendo transformações silábicas e fonéticas no heterogêneo alfabeto grego. Esse novo sistema pôde ser empregado e compreendido de forma mais abrangente, já que abandonou a aparência gráfica da palavra para privilegiar a legibilidade identificada por elementos padronizados – o sentido de leitura passou a ser da esquerda para direita.
Enfim, o Período Clássico na Grécia marcou a história do ocidente através da arte, da arquitetura e da organização política de uma cidade. No entanto, a origem do repertório grego não foi devidamente atribuída aos Sumérios, diferente disso, simbolizou uma conquista do homem sobre os deuses e sobre seu destino. Enfraquecidos pelas guerras os gregos foram dominados pelos macedônios em 338 a.C., uma civilização que ampliou seu domínio do mediterrâneo até parte da Índia através dos feitos de Alexandre, o Grande. Por fim, o idioma grego estruturou o dialeto ático do reino da Macedônia.