Expurgação + Thélémaque + Max
Sensacional esta oportunidade proporcionada pelos Festivais Espírito Mundo na Europa. A vivência do coletivo Expurgação na residência artística nas instalações no prédio do Le 6B em Saint Denis no subúrbio de Paris, no plano sonoro, nos renderam experimentações musicais riquíssimas.
A principal novidade para nós, foi a possibilidade de interagir com um músico haitiano residente no Le 6B: Jackson Thélémaque. Uma jam session regada a muito batuque em seu modesto estúdio no dia 5 de setembro deixou os expurgacionistas todos instigados para que pudéssemos contar com a participação deste malako em nosso show que aconteceu na noite de sábado no dia 8 de setembro, como parte das atividades culturais organizadas pelo Le 6B no evento Fabrique à Rêves. Literalmente uma fábrica de sonhos para todos ali envolvidos.
O curioso é que esta apresentação da Expurgação Musical não estava agendada previamente, sendo fruto da interação do coletivo com alguns artistas residentes no Le 6B. Antes de virmos para a Europa o que estava previsto era a exposição do projeto Últimos Refúgios. Mas como o grupo havia levado alguns instrumentos acústicos e todos os dias encerrava a noite fazendo um som na sala aonde estávamos hospedados, e na primeira semana havia agitado a festa de aniversário do artista plástico Jean Marc, também residente no Le 6B, o convite para participar da Fábrique à Rêves acabou acontecendo.
Depois de muita correria e trabalho durante a semana, em meio a produções e tensões, enfim uma noite de celebração: um show e uma exposição marcadas para a mesma noite e no mesmo horário!
Assim, estávamos lá, sabadão às nove da noite, na pressão e na fissura de mandar aquele sound. A passagem de som pela manhã já demonstrava indícios de que esta apresentação seria bem diferente, sobretudo pela participação de Jackson e também de um músico francês que tocava pandeiro muito bem.
Tudo firmeza, expurgadores de plantão e instrumentos se aproximando e afiando a energia celebrativa! De cordas contávamos com viola, cítara, violão, guitarra e baixo, de percussão triângulo, chocalho oval, djambê, derbak, pandeiro, além de bateria.
Totalmente abertos para uma experiência nova, sem intenção de querermos tocar tal como havíamos ensaiado em nosso estúdio em Vitória/ES, o qual chamamos Comando Kalakuta. Influências de afrobeat, samba, funk e outros ritmos sempre rebatendo na hora de fazer um som.
Algumas canções, como de costume, foram tomando forma ali na hora mesmo do show, e eu sempre atento pra mandar uma letra em cima do beat que surgisse no momento. O show começou com a música “Cadê”, da época em que era da banda Zaiba e que sempre gosto de cantar, em seguida, segurando a base no violão Chicow assume os vocais para cantar “Coronel Antônio Bento”, do mestre Tim Maia, em uma versão totalmente expurgativa.
Rolaram também letras mais recentes que escrevi como “Salamaculaiê”, e “Eu gosto é do sacode”, além da já conhecida entre nós “Meu amigo Mago”. A sessão Tim Maia continua com “Guiné Bissau, Moçambique e Angola”, com Chicow garantindo o vocal e eu dando uma força no voz para o refrão. A galera gosta muito do síndico! No meio do Tim Maia começo a mandar no vocal uma referência ao músico africano Manu Dibango, cantando “Soul Makossa”, que naquela hora se tornou Samba Makossa.
Em certo momento do show Huemerson Leal passa as baquetas para Diego Brotas, que em sintonia com Chicow no baixo, começam a esquentar a chapa com uma base de funk pesado que colou direitinho firmeza com a última letra que fiz: “Base Bruta”. “Aqui a base é bruta e o nosso verbo afiado, quando o beat começa não dá pra ficar parado!” Assim diz a letra.
Em outros momentos a jam comeu solta, com Arthur Navarro batucando no derbak, Yuri Salvador no triângulo, Chicow na cítara, e eu gastando ora no djambê, ora escaleta ou chocalho oval, enquanto o Max, francês, garantia uma base no pandeiro sinistra.
Até que Jackson Thélémaque atingiu, não apenas mandando seus riffs de afrobeat no meio da levada expurgativa, mas também assumindo os vocais com alguma de suas canções. A satisfação foi total, e o público que no início estava disperso foi chegando foi chegando e até dançando ficou. A noite expurgativa foi celebração festiva! E alguns dos presentes para a alma depois do show foram os dizeres de “super… super”, vindos dos franceses que curtiram a nossa apresentação. Expurgação & Jackson Thélémaque no subúrbio ao norte de Paris total la bomb!