Delírio da incubação
Imagine que você nasça e logo em seguida morra, num ínfimo espaço de tempo. De forma que dúvidas são levantadas sobre a sua vida, caso ela realmente acontecera. Antes de viver você existiu? Podemos vislumbrar a existência de um ser ou uma coisa antes que ela viva ou interaja com qualquer ser ou com o próprio meio infinitesimal?
Existir representa estar contido dentro de uma percepção qualquer. Pertencer a um delírio, ou a diversos mundos interpostos que são infinitamente terminais da consciência. Uma espécie de redoma nanofractal completamente tomada por óvulos do “vir a ser”, pulsantes, com possibilidade de reproduzirem-se ao infinito, assim como de serem dispensados pelo ventre e chegarem aos finalmentes dionisíacos da fecundação.
Se você existiu, teve vida em sua existência? Será a vida um momento de criação das células totipotentes? Ou a diferenciação de todos os tecidos que compõem o conjunto humanóide é a determinante do agenciamento fisiológico? Como poderia a vida pertencer a uma célula ou ao combinado celular se, em termos de grandeza etimológica, a célula é apenas um elemento do mecanismo vital?
É obra da genética! Os códigos genéticos são alienígenas que promovem suas próprias descobertas através da habitação carnal. Nós somos apenas um resultado deles. Ou então, somos frutos da consciência criaturada que pode acordar a qualquer instante de um sonho imensurável. No entanto, a realidade da guerra e do amor interpela essa conclusão verbal saltando o espaço entre as órbitas da linguagem. Digamos e já sejamos gratos…
É quando nossa consciência toca a relação do tempo no corpo com o tempo sem o corpo, que simula nosso espaço no campo das representações materiais. Então temos receio de morrer, de não viver mais essa relação dicotômica constatada de forma unilateral. Exuberante interface, temos medo de danificá-la, de perdê-la, de não sê-la mais por motivos banais, por motivo algum! Mas também temos medo de sê-la como queremos, como poderíamos ser se:
– Temos que nos entender no mínimo agora…
– Digamos nós!
– É, no mínimo agora…
– Diga-me a mim!
– Quero dizer, no máximo agora…
– Corrigimo-nos!
– É, no máximo agora…
– Repitam a mim mesmo!
– Agora entendo que um ou outro não faz diferença para mim…
– E pra ti?
– Querer-, ver-, o mais depressa possível, depois… te
Como alforje de uma geradora matricial, bastaria a vida gestativa continuar por eras sem a alforria da sua interface de comunicação material. Imagine a ausência dos componentes sofisticados que regem a vida das cadeias neurais sem autonomia, cada unidade valendo duas e não mais uma personalidade. Poderíamos afirmar que quando morre um “vir a ser”, na verdade, morrem dois ou três “que já foram”?! E se nascem dois “que já foram”, concomitantemente estão para morrer inquestionáveis quantias de “vir a ser”?!
Subumana condição, outorga a presença das dilatações temporais como se o nosso marco inicial fosse a caverna do passado, ou a espaçonave do futuro.
sem palavras! to chapado!