Associações Coletivas
A nossa inteligência afetiva (MORIN,1998) trabalha diferentes possibilidades de comunicação, percepção e associação das pessoas (as unidades conscientes). No caso do Coletivo Expurgação, entendemos as associações como um resultado dos processos psicobiológicos que nos regulam e nos permitem agir conscientemente e diferenciadamente.
Sendo assim, entendemos que existem 4 formas básicas de associação que não são essencialmente coletivas, mas fazem parte do processo civilizatório terrestre, por exemplo, a associação por aproximação. Neste caso, a utilização de um espaço é compartilhada e obriga as unidades conscientes a conviverem presencialmente, a exemplo da convivência em família. Também podemos considerar o nosso contato com as interfaces dos objetos.
A aproximação sempre vai gerar um sentimento e, consequentemente, uma nova associação pelo sentimento, a qual acreditamos que indica o primeiro nível de senso de pertencimento (RODRIGUES, 2011), no que diz respeito à psicologia da consciência, ou o primeiro nível de acoplamento estrutural (MATURANA E VARELA, 1992), no que diz respeito aos aspectos biológicos do “ser”. Podemos chamar de N1PA, o nível 1 de pertencimento e acoplamento da unidade consciente.
Já a associação por interesse comum visa uma provável cooperação no sentido de praticar um objetivo lógico, por exemplo, a relação do empresário com seu sócio, ou ainda, com seus subordinados. O interesse comum projeta os benefícios que o trabalho proporciona e, de certa forma, acende o segundo nível de pertencimento (N2PA) por meio da complexidade das relações de trabalho. O contrato hierárquico regula o funcionamento dessa associação verticalizada.
Diferente disso, a associação por cultura agrega um novo componente na relação das unidades conscientes. Elas estão envolvidas pelo compartilhamento e assimilação de hábitos, de ritos e de uma pseudotradição de grupo. Essa associação pode ocorrer de forma inconsciente (ALEXANDER, 1964) e despreocupada, de modo que a cultura em questão torna-se o resultado da passividade das unidades conscientes diante do contexto. Mas essa associação também pode ocorrer na presença da arte, ou de qualquer outra grandeza que possa revelar, para cada unidade consciente, a potencialidade do conjunto humano envolvido. No caso do Expurgação, a música foi a linguagem que cristalizou a essência do nosso coletivo.
Na presença de grandezas como essas, as pessoas começam a se perceber como parte de um conjunto e a replicação dessa percepção tende à criação de um sistema regulatório para esse conjunto continuar existindo. Esse é o ponto de partida para uma nova forma de associação autoconsciente (ALEXANDER, 1964), onde a tradição é reconhecida, fortalecida ou transformada, e compartilhada, em nível de romper com a passividade cultural para promover ações estruturantes (CRISTO, 2012), por fim, empreendimentos mais transparentes e igualitários. Nesse caso, podemos considerar que esse avanço para o nível de pertencimento e acoplanemto (N3PA) é justificado pelo contorno humanista que o interesse comum adquire, também pelo desenvolvimento da inteligência moral e afetiva da unidade consciente em relação ao coletivo e à sociedade de modo geral. O trabalho se torna mais importante do que o dinheiro (HARVEY, 2011)
A quarta forma de associação é um desdobramento do sucesso da associação por cultura autoconsciente. Diz respeito à estruturação de uma rede sustentável de organismos coletivos interdependentes que buscam acessar efetivamente as seis dimensões da sustentabilidade (RODRIGUES, 2011) – um sonhado N4PA.
Atualmente, os avanços tecnológicos favoreceram a interação entre as unidades conscientes, que se associaram em grupos para aprimorarem o conhecimento através do compartilhamento de informações e da vivência coletiva. A organização está facilitada e pode ser estruturada em muitas interfaces. Nesse sentido, os Coletivos, a exemplo do Expurgação, fluem no nível N3PA através de empreendimentos horizontais, formalizados ou não, onde os limites comportamentais e os projetos individuais são observados e discutidos coletivamente – cotidianamente (uma nova forma de cidadania).
Todo mundo tem que viver no Comando, mas ninguém pode morar lá!