4ª Expedição Rebio 2Bocas
A quarta expedição à Reserva Biológica Duas Bocas (Rebio 2Bocas) foi iniciada num domingo (17/06). Uma equipe ficou alojada na sede em Duas Bocas onde 30 combatentes faziam um treinamento contra incêndios acompanhados dos guardas florestais. A outra equipe se dirigiu para região do Alegre para encontrar espécies de pássaros e mamíferos noturnos.
Lá um grupo de macacos Bugio (ou guariba) foi encontrado se alimentando no alto das árvores. Quando perceberam nossa presença, começaram a gritar com um forte som grave.
Enquanto isso em Duas Bocas, a equipe reativou os pontos de ceva na mata colocando aipim para o caitetu, carcaça de frango para o urubu-rei e fígado de frango para a jaguatirica. No percurso uma lagarta perigosa e exuberante caiu na camisa de uma colega da equipe e sapecou as costas dela. Apesar do azar, a lagarta proporcionou lindas fotografias.
Já durante a noite encontramos uma tarântula carregando uma bolsa cheia de ovos . Depois disso, a equipe buscou diversos ângulos para fazer time-lapses do céu estrelado, pincelado com uma névoa rala e distante. A rota dos aviões que cruzam o estado passa exatamente em cima da Rebio Duas Bocas, fato que cria rastros liminosos nos vídeos noturnos do céu.
Na segunda-feira (18/06) a equipe percorreu os pontos de ceva. No caminho encontraram uma garça noturna na margem da represa e um grupo de anus-coró azulados. Em um dos pontos de ceva com carcaça de frango, a câmera Trap que fica monitorando os animais registrou a comilança dos urubus.
Ainda na parte da manhã, os mergulhadores chegaram para fazer as imagens subaquáticas da represa. Eles permaneceram até o final da tarde registrando o fundo da represa, as casas sumersas e o aspecto do leito da represa.
No Alegre a equipe percorreu a floresta em busca de pássaros. Um caburé, uma espécie de coruja muito arisca e perigosa para pequenos pássaros foi registrada enquanto cantava. Sempre que reproduzimos artificialmente o pio do caburé na mata os pássaros se apresentam para contra-atacá-lo.
Na manhã da terça-feira (19/06) a equipe de Duas Bocas foi para o Alegre registrar os pássaros capturados pela equipe de lá. Entre as espécies mais curiosas, o pássaro subideira, semelhante ao pica-pau. Ele usa a pata e a cauda pra se apoiar no tronco das árvores. Também encontraram um esquilo conhecido como caxinguelê numa palmiteira Jussara.
A câmera Trap instalada próxima a caixa d’água da sede em Duas Bocas registrou um grande gambá se alimentando das carcaças de madrugada. De manhã dois cães domésticos apareceram. A segunda câmera Trap que monitorava aipim e mamão registrou uma paca gorda se alimentando.
A equipe retornou no meio da tarde e logo foi renovar a ceva de carniça para o urubu-rei, mas no local só havia o urubu cabeça seca e encarnada. No cajazeiro perto do alojamento, avistamos um grande gavião, amarelado acizentado. Em baixo do cajazeiro haviam muitas penas médias cinza de um pombo que havia sido devorado pelo gavião. Aguardamos pra ver se ele voltava, mas isso não aconteceu, o pombo continuou apoiado no alto do cajazeiro.
Na quarta-feira (20/06) a equipe novamente foi checar as câmeras Trap e os pontos de ceva em Duas Bocas. Na câmera Trap que monitora a ceva de mandioca e mamão próxima à uma pequena ilha uma surpresa!
Esperávamos encontrar a paca ou o caitetu, mas melhor do que isso, em meio aos vídeos de pacas, um vídeo havia registrado uma onça parda! Possivelmente ela foi caçar a paca que cevamos nesse local. Foi o primeiro registro de onça nessa Unidade de conservação!
Além dessa sorte, logo em seguida na ceva de carniça finalmente encontramos o urubu-rei. Chegamos sorrateiramente com a lancha para fazer várias imagens dessa exuberante espécie de urubu, branco com detalhes pretos e bico vermelho, mais robusto que as demais espécies de urubu. Geralmente é ele que rompe as partes mais resistentes da carcaça.
Contente com o resutado, a equipe retornou ao Alegre para discutir o resultado obtido em Duas Bocas e para fotografar mais pássaros capturados pela equipe da bióloga. Voltamos à noite e montamos o equipamento de monitoramento na área de ceva para pacas e caitetus, onde a onça parda apareceu. Ficamos lá das 4 horas da tarde até a meia-noite, mas nada foi registrado, apenas ouvimos o barulho das pacas que devem ter estranhado a presença da barraca de acampamento.
Já era quinta-feira (21/06). Pela manhã verificamos as câmeras Trap esperando encontrar novamente o urubu-rei na carcaça. Depois a equipe de Duas Bocas se deslocou para Alegre para registrar os pássaros capturados pela equipe da bióloga. Algumas espécies não puderam ser identificadas imediatamente pela equipe.
À tarde descansamos para suportar mais uma noite na mata monitorando a possível volta da onça parda ao ponto de ceva. Saímos as 15h30 para preparar o equipamento. Dois membros ficaram no local com a equipe de monitoramento, os demais retornaram para a sede e relaxaram.
Na manhã da sexta-feira (22/06) a equipe saiu com a lancha para vasculhar a mata no entorno da represa. Sexta foi o último dia da quarta expedição. Por sorte encontramos o socó-boi, o martim pescador e um grupo de macacos-prego que, rapidamente, dispersaram para o alto das árvores.
No entanto, um jovem filhote não conseguiu fugir, ficando isolado e próximo de nós. Então o macaco dominante desceu para perto do filhote e começou a mostrar os dentes tentando nos intimidar. Foi uma ótima oportunidade para registrar esse comportamento do macaco-prego. Por fim, retornamos para Vitória com a primeiro registro de onça na Rebio 2Bocas, além da imagem do urubu-rei e dos raros pássaros silvestres da Região do Alegre. Sucesso do projeto Últimos Refúgios!