Remanescentes Quilombolas
Nessa série de fotografias Leonardo Merçon desvia um pouco do seu engajado enfoque ambiental, para mostrar seu olhar antropológico. Se me permitem devanear, parece um capricho egoísta do ser humano quando acredita não fazer parte da “natureza” (num sentido totalizante do conceito)
, talvez por considerar-se acima dela, provoca uma espécie de miopia ou miragem da sua própria existência sobre a Terra, talvez por isso, algumas ações dos seres humanos sejam tão devastadoras ambiental e socialmente. Nesse sentido, Merçon continua seu trabalho fotográfico atuante, com o mesmo engajamento e belos resultados. Sua fotografia não é atoa, seu olhar não é distraído, é investigador e sensível.
As fotos dessa série ficaram entre as 10 finalistas de um concurso da National Geographic e foram impressas em um livro viabilizado pela Petrobrás, diga-se de passagem, um exemplar desse livro chegou às mãos do então presidente Lula.
O fotógrafo aproveitou a visita para conhecer mais do lugar e das pessoas que fotografou, em conversas colheu as informações a seguir.
Cacimbinha e Boa Esperança
Duas teorias diferentes contadas pelos antigos moradores explicam as versões do surgimento das comunidades: uma mais aceita dizendo que ela foi formada em uma área doada para um escravo libertado em gratidão aos muitos anos de serviços prestados. Esse escravo com suas cinco esposas, começou o povoamento dessas terras criando suas famílias nessa área. A outra teoria, menos aceita, diz que a comunidade deve ter começado através de quilombos formados por escravos fugidos dos engenhos de cana.
O idoso na janela
Na comunidade Leonardo Merçon pode perceber duas características do grupo: resistência e felicidade. Resistência diante das dificuldades de montar uma vila no meio da Floresta Atlântica por volta de 1800. Felicidade em suas danças tradicionais remanescentes da cultura africana, como o Jongo.
A velha senhora quilombola
A estrutura da vila é simples, formada em torno das pequenas mercearias. Os adultos trabalham em geral no corte da cana, entretanto na entre safra esses trabalhadores ficam sem ocupação. “Quando eu nasci, já com um tamanho, eu batalhei um pouco. Pescava, fazia de tudo um pouco, trabalhava com enxada… Então comecei a fazer farinha, moer cana, fazer rapadura” (Dona Edna, 74 anos)
Dona Edna é uma das mais antigas moradoras da comunidade, ela ainda mantém alguns costumes da época da escravidão que ela aprendeu com sua mãe. No seu dia-a-dia ela ainda caminha mostrando os seios, um comportamento comum da época. Merçon foi recebido com muito carinho, mas com um pouco de embaraço porque as visitas de fora não são freqüentes.
A criança quilombola
A felicidade e o sorriso do menino na foto estão em sintonia com o nome da comunidade de Boa Esperança, a espera de dias melhores só pode ser sustentada por um cotidiano otimista, embora às vezes soando de maneira ingênua. Os quilombos, que criaram as atuais comunidades de remanescentes resistiram e transformaram, os tempos difíceis não extinguiram um dos principais ingredientes da resistência, a esperança.
Cacimbinha recebe esse nome devido ao instrumento usado para beber água naquela região, uma cacimba que substituía os copos.
muito boas as fotos, gostei muito.
Opnião de mãe é suspeita!!! hahaha