Poética da Mitologia 2/2
A relação dos atos de Alexandre da Macedônia com a vontade dos deuses é uma questão pouco debatida, por vezes esquecida. Contudo, essa questão pode nos fazer acreditar que as conquistas tiveram motivação expansionista e que, aparentemente, o homem assumiu o centro do universo.
Naturalmente essa visão antropocêntrica cria diferenças entre a mitologia da história antiga e a história antiga formalizada, de modo que ondas ruidosas da escolástica pré-renascentista ainda continuam tumultuando conclusões sensatas sobre a origem do homem e do mito. Novos estudos sugerem que Alexandre, o Grande, era motivado pela busca da imortalidade, assim como Gilgamesh nas crônicas sumérias – ele passou a se entender como um deus, ou foi convencido de que era filho de um(a) deus(a).
Após a morte de Alexandre o império da Macedônia sucumbiu. Assim, povos da Europa como italiótas, gregos e etruscos deram início ao surgimento do Império Romano, segundo à lenda poética dos descendentes do herói troiano Eneias (filho de Vênus), Rômulo e Remo, supostos filhos do deus Ares, ou Marte segundo a cultura grega. Em parte, a re-significação dos contos gregos pela cultura romana (Júpiter e Zeus representam a mesma entidade) criou mais uma camada ruidosa entre a crônica semita e a crença na realidade mitológica.
Infelizmente os romanos experimentaram a decadência da “mitologia das antigas civilizações”, uma vez que o Império Romano, apesar das grandes conquistas e da apropriação cultural dos povos dominados, representou o último sopro poético dedicado às deidades históricas. A ausência de fenômenos sobre-humanos (ausência dos deuses?) e o surgimento de crenças monoteístas, como por exemplo, o cristianismo, acabaram suprimindo importantes pistas históricas que dizem respeito à origem da primeira civilização humana e aos fenômenos que se sucederam desde então.
Em 400 d.C., a queda do Império Romano do Ocidente marcou o início da Idade Média (do século V ao século XV), um período que rompeu repentinamente com o pensamento neolítico dos mitos e das crenças politeístas. Destaque para o surgimento e expansão do islamismo (600 d.C.) no mundo árabe, e disseminação do cristianismo na Europa (Concílio de Cartago, 397 d.C.).
Então, o verbo da crônica poética politeísta deixou de fazer sentido para os homens. Nesse processo de desconexão com o passado, na metade do século XIII, Santo Tomás de Aquino, assistindo ao retrocesso do pensamento medieval em relação à política e filosofia grega, tratou de incorporar uma visão aristotélica do mundo, criando uma teologia da revelação e uma filosofia da razão que embasaram sua teoria do conhecimento – fruto da escolástica. Mais tarde, houve uma tentativa de redesenhar a história do homem através da ideologia renascentista (humanista, antropocêntrica, individualista) e dos valores espirituais e morais da igreja, detentora do sagrado conhecimento bíblico e do latim, a língua erudita da Idade Média.
Sendo assim, a cultura renascentista que perdurou do século XIV ao século XVI empregou principalmente a mitologia grega e romana na arte desse período. Embora esse conteúdo mitológico clássico tenha derivado em princípio da civilização suméria e de todas as demais civilizações que floresceram na história antiga (Egito, Assíria), a temática renascentista não ultrapassou os limites a história da Grécia (mitologia), do Império Romano (revelação de Jesus). A bíblia, que se apresentava como uma fonte preciosa de conhecimento pré-greco-romano, estava restrita ao latim, ou seja, era transmitida apenas pela oratória dos sacerdotes católicos. Essas características re-significantes ajudaram a criar versões personalizadas da mensagem bíblica e a formar conceitos incompletos que povoaram o imaginário coletivo ocidental com enganos semânticos, como por exemplo, a visão de que nossa espécie é está especialmente sozinha no universo, o conceito de céu e inferno, divergências criacionistas e darwinistas, etc.
Por fim, Gutenberg (1.439 d.C.) realizou avanços nas técnicas de impressão que popularizaram os temas renascentistas, assim como a sagrada figura de Jesus e da igreja perante a cultura ocidental européia. Enfim, a cultura e as crenças provenientes da Suméria foram dissolvidas e só puderam ser apresentadas na modernidade, através de análises interdisciplinares que cruzaram pesquisas e descobertas arqueológicas de diversas regiões do planeta. Análises como as do historiador e escritor Zecharia Sitchin, grande conhecedor e tradutor da obra suméria que ascendeu uma versão tão realística quanto mitológica para a origem das antigas civilizações.