Paisagem Sonora Parte I: definição e considerações iniciais
Timbres característicos, sons naturais como os provocados pelos ventos, mares, canto de pássaros, ruídos sonoros provocados por carros e fábricas, composição musical e até um programa de rádio. Tudo isso é responsável por sonoridades locais, que se mesclam com uma enorme quantidade de ruídos e sons diversos, fazendo surgir verdadeiras “paisagens sonoras”.
Entretanto, a sensação de ouvir foi, durante séculos, dominada pela percepção visual. Mesmo que pesquisas científicas mais recentes tenham recuperado o sentido sonoro relacionado a seus aspectos físicos, culturais e até mesmo sociais, discursos analíticos no campo da antropologia permanecem centrados no visual/imagético. São poucos aqueles que contrapõem a discussão sobre o som à predominância da visualidade nas ciências humanas e sociais.
Foi a partir do trabalho de Murray Schafer (1977), “A afinação do mundo” , que se iniciou um movimento para a percepção do meio ambiente sonoro no qual o ser humano está inserido, sendo ele também responsável por esta composição paisagística. Para tal, o autor criou o termo paisagem sonora como campo de estudo acústico. A partir deste estudo, demonstra-se como os sons são responsáveis por uma representação singular de determinados ambientes acústicos e, por conseqüência, pela impregnação de sentidos no lugar.
Direcionar a atenção para o estudo da Paisagem Sonora é ressaltar a importância da constituição sonora dos lugares. É a partir da relevância dada aos sons que compõem o cotidiano da história da humanidade em diversos períodos históricos, que Schafer (1974) chega a definição deste conceito baseado numa percepção da paisagem ou ambiência acústica representativa dos locais. Para o autor a paisagem sonora é a ambiência acústica dos lugares. São sons de animais, máquinas, carros, pássaros, músicas, e infinitos ruídos que fazem parte dos lugares. Entretanto, focar nesta percepção sonora significa também atentar-se para a área dos estudos geográficos que ressalta a importância do lugar dentro de um processo de construção de significados composto de elementos diversos, como as coordenadas geográficas, as materialidades subjacentes, os arranjos sociais que se desenvolvem e muitas outras informações imprevisíveis.
Paisagem Sonora e lugar se apresentam como conceitos que se interpelam ao revelarem significados mútuos. Não se deve pensar em um arranjo sonoro sem identificar o contexto geográfico específico de tal ação, e suas características devem ser ressaltadas para uma melhor compreensão de fatores sócio-culturais muitas vezes não salientados.