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Debate: Chomsky e Foucault

Um debate fascinante sobre filosofia e política que foi gravado para a televisão holandesa em 1971. Felizmente, um parceiro do Expurgação investiu seu tempo na tradução e legendagem desse vídeo que, basicamente, debate a possibilidade de existir, ou não, uma natureza humana comum a todos.

A partir de um posicionamento sobre esse assunto, são debatidas formas de ação política para a criação de uma sociedade “melhor”.

De um lado Avram Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político estadunidense, professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Chomsky, que se descreve como um socialista libertário (anarcossindicalista), é conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica à política externa dos Estados Unidos.

Do outro lado Michel Foucault, filósofo e professor da cátedra de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France desde 1970 a 1984. Foucault, arqueólogo do saber filosófico, da experiência literária e da análise do discurso, concentrou sua energia intelectual na crítica às conjunturas de poder e “governamentalidade”, representadas pelas ”instituições disciplinares”.

O debate tem algo de profético, pois, já em 1971, eram anunciadas questões que hoje são lugar-comum nas discussões sócio-políticas. É um bom meio de mapearmos as posições filosóficas (muitas vezes, tomadas sem a pessoa saber que está nessa posição) que embasam diversas opiniões circulantes.

Um bom exemplo disso, é a atual crise das instituições midiáticas, que pode ser claramente observada através dos movimentos sociais ocorridos no Brasil. Enquanto a velha mídia defende que algum ideal de imparcialidade é possível e desejável – o que em parte remete à posição de Chomsky no debate; um idealismo – membros da nova mídia entendem que este ideal é impossível e que mídia se faz com embate de narrativas, que remete à posição mais niilista de Foucault.

Portanto, uma das questões que emerge dessa discussão é a seguinte: será que o discurso da imparcialidade é, no fundo, uma estratégia retórica para garantir legitimidade ao discurso da mídia tradicional; ou seja, a imparcialidade é uma faceta da manipulação?

Em princípio, notamos que a proposta de Chomsky se relaciona mais com a ideia de criatividade do indivíduo (de modelo mental), enquanto a proposta de Foucault (sua proposta é não ter uma proposta determinante) se liga mais à dimensão cultural dos processos coletivos de significação social.

Tradução e legendagem: Erik Delarge – Vale lembrar, as legendas para português devem ser ativadas no item “legendas ocultas”.

A seguir, preparamos uma espécie de fichamento do conteúdo do vídeo, com o propósito de organizar e comparar as informações colocadas neste debate, de acordo com dois tópicos: a natureza humana e a criatividade.

1)SOBRE A NATUREZA HUMANA

Noam Chomsky: ideias inatas, estruturas inatas, esquematismos, princípios inatos de organização.

Estudar a linguagem é estar face a um organismo, um maduro e falante adulto que adquiriu uma impressionante gama de habilidades (conhecer a linguagem), que permitem-no dizer o que ele quer significar ou entender de outras pessoas, de forma altamente criativa.

Existem diversas línguas, portanto, diversas limitações simbólicas que afetam as experiências do ser humano. A criança está diante desse impasse e começa com esse esquematismo organizado e bastante restritivo que ela está apta a dar um grande salto a partir de dados difusos, até atingir uma complexidade.

Acredita que os esquematismos ou princípios inatos de organização guiam nosso comportamento social, intelectual e individual. A criatividade tem um papel importante, todos nós somos criativos.

Michel Foucault: é cauteloso com os conceitos ou noções que a ciência pode se servir para estudar a natureza humana. Melhor falar de campos epistemológicos, em uma rede de uma cultura estabelecida na qual todos os membros obedecem e onde buscam por identidade e coerência. Visualizou sistemas de elementos, quadros ou grade.

As noções têm um nível diferente de elaboração. Por exemplo, temos a Biologia e conceitos dentro da Biologia, assim como também temos o conceito de “reflexo”. Ao mesmo tempo existem noções que são periféricas que não possuem o papel de organização, mas servem para apontar o domínio do objeto a ser estudado, os problemas observados.

Assim, o conceito de “vida” para a Biologia sustenta uma noção de vida que, provavelmente, não abrange ou considera campos de objetos e novos domínios que estão além desse conceito, de maneira que a noção de vida foi um indicador epistemológico.

Embasa as regras e hábitos pensar-e-fazer, que nós chamamos de cultura, a qual todo indivíduo está sujeito. Este sistema não é uma coisa ou uma ideia, mas reside entre os dois. A história do pensamento deve ser contada pelas transformações descontínuas entre uma rede e outra.

2) SOBRE A CRIATIVIDADE

Noam Chomsky: é um fenômeno comum aos seres humanos, uma maneira de agir e reagir. Pensa na reunião dos saberes para descrever mais apropriadamente as verdades. Uma forma de detectar alterações no esquematismo. Como é que, dado uma quantia de dados, é possível a vários cientistas, até mesmo os gênios, chegar a algum tipo de teoria?

Proposta de um modelo de funcionamento social: Ideias de descentralização, federação, socialização e participação para política, para superar os elementos de repressão ou opressão que existem na sociedade (anarco-sindicalismo). O ser humano não pode ser forçado a uma posição de ferramenta, de engrenagem da máquina, pois isso é contrário à natureza humana. É preciso teorizar alguma proposta.

Há um perigo no empreendimento de certas ações concretas, como por exemplo, a desobediência civil, que não tem o resultado calculado, mas que representa um gesto de recusa dos atos fascistas que são impostos a um soldado do Viatnã, por exemplo. Devemos ser corajosos para especular e criar teorias sociais com base no conhecimento parcial.

Presa pela libertação do indivíduo através da subversão às leis vigentes. Forçar o estado policial terrorista a obedecer a lei.

Michel Foucault: Na história tradicional da ciência, a criatividade dos sujeitos é apenas o descobrimento de verdades que estavam inscritas nas coisas e no mundo, e por efeito de obstáculos, anteriormente ao descobrimento, essa verdade não era possível ser vista. Obstáculos podem ser: mentalidade, contexto social e econômico, mitos religiosos, moral.

Por direito, o espírito é feito para ver, para ter acesso à verdade, mas ele não é o proprietário da verdade. Hoje, a ciência não somente se livra de um certo número de obstáculos de obscuridade, como, ao mesmo tempo, suprime um certo tanto de saber. A verdade não é adquirida como uma espécie de criação contínua e acumulada, mas assentada sobre as descobertas e suas aplicações.

Temos por hábito insistir na criação individual. A criatividade só é possível em um sistema de regras, não é uma mistura de regularidade e de liberdade, pode ser encontrada fora do homem. “Faço de um problema pessoal uma ausência de problema, que é diferente de fazer de um problema uma questão pessoal”. O saber não é importante, o importante é a transformação de um saber. Até onde a humanidade pode escapar de sua cultura?

Não quer propor um modelo de funcionamento social: acredita que o poder político é exercido ainda pelo intermédio de um certo número de instituições que dão a impressão de que não possuem nada em comum com o poder político, que dão a impressão de serem independentes, mas não são. O sistema escolar e as universidades distribuem este saber e são usadas para manter no poder uma certa classe social e excluir os instrumentos de poder de outra classe. Sendo assim, a psiquiatria e a justiça são instrumentos de imposição desse sistema. Temos que criticar o jogo das instituições. A violência política na nossa sociedade serve para impedir sua reconstituição, tais como esta do anarco-sindicalismo!

Por exemplo, o marxismo é um modelo burguês de concepção de sociedade e felicidade. Quando se aplica um modelo, por exemplo, a estética é burguesa do marxismo, nesse ato já se limita a expressão do que seria uma meta para a sociedade e para a felicidade. Nossa sociedade é ao mesmo tempo real e utópica.

Mais informações:
http://aphelis.net/chomsky-foucault-debate-complete-video-recording/

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