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Poema Processo

O poema-processo faz parte de um movimento artístico que inovou a forma de pensar os poemas visuais, de acordo com um posicionamento poético mais aberto às possibilidades criativas associadas ao exercício gráfico de criar composições abstratas, muitas vezes sem nenhuma palavra, inclusive valendo-se da relação poema-objeto.

O movimento considerava que poesia era uma palavra oficial e falsa. Seria mais oportuno tratar do poema e do seu universo ontológico. Por isso passou a defender o fim do sentido no poema, ao mesmo tempo que, de outra forma, buscava compartilhar o protagonismo da criação com os próprios usuários no momento da experimentação dos poemas-processo.

Criação do poeta Álvaro de Sá publicado em 1973.

De acordo com o artigo “A Poesia Concreta de Wlademir Dias Pino: Escritura e Informação”, da pesquisadora Priscilla Martins (2010), “o movimento liderado pelos poetas, Neide Sá, Moacy Cirne e Wlademir Dias-Pino, pretendia ser inovador ao propor um desmonte nas formas estabelecidas de criação de um poema”. “Aderiram ao grupo poetas de todo o país e publicou-se de maneira mais expressiva nos estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte”, resumiu Priscilla Martins.

Poema Poemãos de Neide Dias de Sá, 1973.

O movimento tinha uma postura típica dos vanguardistas em passeatas “happenings”, já que carregavam faixas contrárias à ditadura e atacavam poetas consagrados, como por exemplo, Carlos Drummond de Andrade. O motivo era ganhar espaço na imprensa para difundir o movimento. Como não havia critério na escolha dos poemas que representavam esse movimento, a produção rendeu aspectos positivos como a democratização da arte, e aspectos negativos, como a difusão indiscriminada de obras artísticas, fato que descaracterizou os objetivos do poema-processo como um movimento organizado.

De outra maneira, havia uma definição sucinta para o termo poema-processo: o processo do poema e não a estrutura (1967). Veja o comentário do poeta Moacy Cirne publicado em seu livro “Poemas Inaugurais” sobre a relevância do termo:

Objeto poema de Neide Sá, 1969.

“Mas o poema/processo, desde o início, abriu espaço para as vertentes semânticas. Daí o conceito de projeto. A própria matriz passava a ser um projeto, capaz de gerar novos poemas, sejam eles em séries gráficas, sejam eles os projetos semântico-verbais. Que poderiam se transformar em poemas/projetos cinéticos, ambientais, tipográficos, comestíveis, sonoros. E assim por diante. E aqui estamos diante de uma diferença radical em relação à poesia concreta, por exemplo: toda poesia concreta é acabada, “fechada”, monolítica; já o poema/processo, para ser de fato umpoema/processo, implica trans/formações.”

O poeta e pesquisador Philadelpho Meneses (1998) definiu que o poema-processo é a poesia semiótica sem chave léxica que cumpre um movimento sequencial, de algo que se desenvolve linearmente, passo a passo, em uma narrativa com começo, meio e fim. Nesse sentido, a chave léxica é também uma “animação semântica” fundamentalmente importante porque incorporou a “arte pop”, a história em quadrinhos e a cultura de massa definitivamente nos domínios do poema visual e vice-versa.

Wladimir Dias Pino, Jornal O Sol, 1967.

Segundo a visão do pesquisador Rogério Câmara, coordenador do site “poemaprocesso.com“, “os diversos níveis de operações e interferências re-funcionalizam o dado objeto que, no momento em que é manipulado, passa a ser outro e distancia-se do seu credor criativo: o poeta, e isso se torna processo”. “Isso abraça uma proposta de universalidade de códigos, onde as operações sígnicas obtidas destroem o antes como afazer criativo e criam no presente “multiplicador” a possibilidade de novos gráficos de significações originais para além do código lingüístico”, concluiu Rogério Câmara,

A obra do artista Wladimir Dias-Pino é uma das referências desse movimento, uma vez que não houve postulados precisos. Ele inaugurou a codificação do espaço dos “poemas espacionais” usando o alfabeto como pretexto de criação de outros códigos visuais, relembrando o caráter imagético da origem da escrita. Isso fez Dias-Pino abandonar a geometria dos poemas visuais concretos para descobrir diferentes criações visuais.

Além de poeta, Wladimir Dias-Pino, o grande expoente do movimento, atuou como artista plástico, tipógrafo e designer, investindo seu trabalho no pensamento visual e gráfico e na influência da ação do leitor sobre o poema. Ele é uma referência de poeta visual brasileiro que antecipou muitos conceitos artísticos, por exemplo, a idéia de processo superando o objeto artístico. Segundo Priscilla Martins (2010), “Wladimir Dias-Pino é um dos pioneiros da poesia visual brasileira, tendo sua obra geralmente situada entre o concretismo do grupo paulista Noigandres (Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari) e o neoconcretismo do carioca Ferreira Gullar”.

Representações esquemáticas da última série do livro-poema Sólida, 1962.

Dias-Pino lançou mão das possibilidades físicas do livro para questionar o próprio livro e a linguagem que se modificava devido aos avanços tecnológicos. Concebeu o poema como uma máquina que deve ser acionada pelo leitor, abandonando a necessidade de sentido para o poema. Também fez a ontogenia do poema, projetando suas obras no futuro das transformações do processo criativo.

Priscilla Martins diz que, em todos estes campos, ele investe no pensamento visual e gráfico no que diz respeito à leitura num universo de imagens e à pessoalidade da ação do leitor sobre o poema. “Partindo do uso verbal-tipográfico, característico da poesia concreta, e chegando ao gráfico-estatístico segundo uma lógica probabilística, abre mão da palavra ao substituí-la por outros códigos visuais, caracterizando-se como o mais cibernético dos poetas concretos”, complementou Priscilla Martins.

Série Sólida de Wlademir Dias Pino, 1955.

Ele publicou seus primeiros livros artesanais em Cuiabá, nos anos 1940 e 1950. Entre os livros, destaque para “Os Corcundas”, que mostra padrões incomuns à poesia brasileira. O tema dominante é a deformação física, mas também invade a própria linguagem, entorta a sintaxe das frases, põe vocábulos anti-poéticos nos versos, deforma as palavras. Priscilla Martins acredita que “os livros-poemas constituem a principal contribuição do poeta para a visualidade da poesia brasileira e dão origem à diferenciação teórica entre o concretismo e o neoconcretismo em torno da objetividade da poesia”. Durante a fase considerada concreta, suas principais obras são os livros-poemas “A Ave” e “Solida”, expostos em 1956, na primeira Exposição Nacional de Arte Concreta.

Poema Ave de Wlademir Dias Pino.

Dias-Pino travou uma luta contra a palavra substituído-a por signos gráficos (figuras geométricas, perfurações no papel). Algumas vezes, por um simples espaço em branco. Ele também era contra os símbolos que identificam a burguesia e o desenvolvimento do capitalismo, de modo que foi um incentivador das passeatas contra a ordem nacional e contra a cultura de massa que se estabelecia. De acordo com as palavras de Dias Pino (1956), “hoje, os grandes conteúdos cinematográficos, os enredos das tragédias – sujeiras psicológicas – e até mesmo casos de amor, puramente individuais, tem sido armas para a burguesia confundir o espírito das massa”.

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