Arte do saber rupestre
A história da arte é tradicionalmente contada a partir do Período Paleolítico Superior, através de pinturas e objetos de cerâmica, madeira e osso eternizados pelos nossos ancestrais. A região Franco-Cantábrica em Bordeaux na França é o expoente mais conhecido da arte rupestre, onde ainda hoje é possível encontrar cavernas com pinturas rupestres.
Análises dessas pinturas criam muita especulação sobre o motivo que teria levado o homem a captar a imagem das coisas na natureza para posteriormente “repeti-las” nas paredes das cavernas, escavando e pintando contornos de animais. No entanto, foi no Paleolítico Inferior que surgiram diversas espécies de hominídeos a partir de 2 milhões de anos, e depois disso, mais rapidamente do que a ciência possa imaginar, “saltos evolutivos” culminaram no surgimento do Homem de Cro Magnon 35.000 anos atrás, uma espécie muito parecida com a nossa, que usava roupas modernas como nós usamos, que podiam estar distribuídos em multidões pelo continente europeu ou americano. De fato, eles eram capazes de construir abrigos de pedra e pele de animais onde quisessem. Portanto, o surgimento do homem moderno à 700.000 anos depois do Homo erectus e apenas 200.00 anos antes do Homem de Neandertal é absolutamente implausível.
Duas questões podem ser levantadas por essa perspectiva. Quando nos referimos ao surgimento da arte através do homem, a que espécie atribuímos as pinturas rupestres? Será que o homem moderno aprendeu sozinho a partir da repetição de exercícios de abstração a comunicar a própria história, ao mesmo passo que desenvolveu habilidade artística e possibilidades de interação que culminaram na transmissão do conhecimento?
Muitas hipóteses podem ser colocadas sobre essa discussão, talvez por isso devemos considerar possibilidades que estejam alinhadas com princípios darwinistas e mitologias criacionistas das antigas civilizações. Um bom exercício para refletir sobre a arte rupestre criada no paleolítico é a observação das imagens. Através de traços simples e firmes os artistas do paleolítico representavam a natureza sintetizando forma e proporções, expressando uma idéia dramatizada. Ao que parece, imagens que aproveitavam a forma das pedras (rachaduras e volumes) para retratar os animais do mundo natural, se desprenderam aos poucos dessas sugestões visuais e se transformaram em concepções puramente criativas. A partir desse exercício de observação e experimentação o homem teria “descoberto” o paralelismo, sua primeira técnica de criação.
Através dessa técnica, o homem transmitiu a impressão que tinha dos animais: graciosos quando se tratando das renas, cavalos e bodes, ameaçadores para representar touros, mamutes e bisontes. Algumas pinturas retratavam o contorno com clareza, outras exibiam preocupação com movimento ou com a profundidade do desenho. Essas preocupações estavam sempre relacionadas com a representação do volume da forma por meio dos efeitos de claro-escuro. O que chama atenção nas pinturas rupestres do Período Paleolítico é o estilo rebuscado que emana graciosidade, estética e acabamento, ao contrário do que imaginamos quando pensamos nos primeiros desenhos feitos pelo homem 40.000 a.C.
Com o tempo, sobreposições e novas figuras revelaram uma mudança na forma de representar. O esquematismo pode ser considerado uma inovação na linguagem do homem, que passou a representar objetos reais por meio de um estilo simplificado, com traços simbólicos e menos realistas. Os desenhos arbitrariamente passaram a omitir detalhes irrelevantes para a identificação dos animais, de modo que tangenciam a abstração das formas completas que foram simplificadas, tornando-se referências vagas ou indiretas. O traço grosso e expressivo é reconhecido como parte dessa tendência natural de redução das imagens que, para muitos pesquisadores, significa uma busca pela regularidade na representação das formas 20.000 a.C.
É importante lembrar que, há 26 mil anos a.C., esculturas foram esculpidas no calcário, de modo que podemos considerar que o homem passou a trabalhar a tridimensionalidade de maneira “consciente”. Destaque para a Vênus de Willendorf que, entre muitas suposições sobre o seu significado, resume a estética do homem primitivo por meio das características do volume distribuído entre as partes do corpo de uma mulher obesa.
Porém, um estudo recente mostrou que algumas composições presentes em Lascaux na França são, na verdade, representações das constelações de Touro, Gêmios e Leão. As imagens que são datadas de 17.000 a.C. mostram detalhes como as plêiades, um triângulo formado por uma trinca de estrelas dentro da constelação de Touro. A existência desse mapa estelar na caverna de Lascaux mostra que o conhecimento do homem já era avançado e preciso antes mesmo do Período Neolítico, fato que desconstrói o conceito de arte pura dessas imagens e ascende teorias panspermistas.
Novamente retornamos à questão do surgimento do homem de cro magnon que vivia em uma sociedade organizada em clãns patriarcais, com habilidade para fabricar ferramentas e armas especializadas, produzir arte, e dar significado à própria vida e morte muitas vezes adorando a deusa mãe geralmente representada por uma lua crescente.
O que é destacado é que o desenvolvimento do homem teria ocorrido durante uma Era do gelo, segundo o professor Theodosius Dobzhansky (Mankind Evolution), um período inapropriado para isso. “O homem moderno tem muitos parentes colaterais fósseis, mas não progenitores, a derivação do Homo sapiens, então, torna-se um quebra-cabeça”, disse o professor.
Sendo assim, a priori o surgimento dos ancestrais humanos na África, o desenvolvimento artístico e civilizatório proporcionado pela evolução da espécie humana se difundiu no paleolítico pela Europa e depois pela América através da cultura cro magnon. Depois passou a se concentrar nas regiões onde hoje é o Iran, Iraque, Síria, Líbano e Israel. Atualmente a referência viva do paleolítico é a caverna de Shanidar onde foram encontrados vestígios de uma habitação de uma família de sete pessoas que viveram há 44.000 anos a.C.. Ralph Solecki visitou a região em 1957 buscando as origens do homem e também descobriu uma caverna preservada que indicava ocupação humana de 100.000 a.C. à 13.000 a.C.
Pesquisadores e estudiosos afirmam que a partir dos 13.000 anos a.C. as condições de vida do homem regrediram possivelmente devido à condições climáticas adversas. Então subtamente, por volta de 11.000 a.C. o homem ressurgiu plenamente reestabelecido mostrando um incrível nível cultural, cultivando cevada e trigo em círculos nas terras altas do ocidente asiático ao norte da mesopotâmia, domesticando animais e produzindo arte. Em diante os Períodos Mesolítico e Neolítico conservam diferentes características em relação ao Paleolítico.
Esclarecedor o texto em muitos aspectos… Um ponto que chama a atenção é quando você diz sobre as diferenças nas representações. Há quem acredite que as representações pré-históricas costumavam ser limitadas apenas aos desenhos esquemáticos, mas a riqueza de representações demonstra que os esquemáticos conviviam lado a lado com os desenhos figurativos realistas.
Um dado importante que não foi mencionado é a relação simbólica das representações. Muitos dos desenhos foram encontrados com marcas indicando que foram alvejados por pedras, lanças e outros instrumentos de ataque, sugerindo que a própria representação era parte do ritual da caça, como forma de garantir o sucesso da empreitada.
Já está provada a coexistência de várias espécies ancestrais do homem no mesmo período… neandertal, homo erectus e o próprio homo sapiens… assim, as representações de cada espécie podem ter sido misturadas e complementadas, ou talvez, induzidas por extraterrestres…
Não necessariamente as representações estão atreladas à diferentes espécies… Isso apenas evidencia o fato de que as diferentes representações, do esquemático ao figurativo, coexistem na consciência humana desde há muito, não apenas se tratando de uma evolução temporal…
Caso eu entenda o comentario, Werllen sugere que a existência das duas categorias de representações nega que os processos mentais envolvidos na construção (criação) de tais representações tenham apenas desenvolvido por meio de evolução temporal. Meu primeiro problema com esta afirmação é com o termo “evolução temporal”. Toda evolução ocorre durante um intervalo de tempo. Um instante não poderia demonstrar evolução, mas uma serie de instantes consecutivos, tendo um intervalo de tempo entre eles, pode demonstrar evolução. Tempo é requerido para evolução, se o termo “evolução temporal” tem o intuito de significar evolução que ocorre num intervalo de tempo, o termo é então redundante. Problema numero dois, mesmo que seja factual que processos mentais necessários para tal descrição existiram naquele momento, digamos 20mil, 40 mil ou 100 mil atrás, não necessariamente evidencia que tal habilidade não tenha origem puramente evolutiva. Pois tal habilidade pode ter evoluído em milhares ou talvez milhões de anos prévio às pinturas. O fato apenas mostraria de que aquela habilidade existia naquele momento.
Toda vida conhecida neste planeta tem um mecanismo para descrever seu meio ambiente para a fim de ser capaz de alterá-lo (ou seja, interagir com ele). As formas mais frequentes de alteração do meio ambiente por organismos vivos são aquelas de angariar energia para manutenção de seus sistemas biológicos, e aquelas da reprodução daquele organismo. No texto Collaborative signaling by bacterial chemoreceptors, sugere-se que bactérias movem-se procurando ideal habitats seguindo diferenças entre químicos atrativos e repelentes. Escherichia coli, por exemplo, tem uma rede de receptores que detectam estímulos químicos que são processados pela bactéria e controlam os flagelos utilizados para seu movimento. Seres humanos são mais complexos que bactérias, mas a ideia fundamental é a mesma. Pode-se afirmar que nós, seres humanos, temos consciência, que usamos ferramentas, que criamos novas formas de alterar o meio ambiente, construímos ferramentas para construir ferramentas, que criamos objetos com a pura função de agradar os nossos sentidos e/ou a nossa mente e que talvez haja comportamentos apenas encontrados na nossa especie.
A existência de algo único na especie humana, no entanto, não traz a necessidade de uma explicação diferente ou adicional a evolução. E o que é realmente único em humanos? O uso de ferramentos é um comportamento encontrado em outras especies, por exemplo, outros primatas e mamíferos, pássaros, peixes e até cefalópodes. O bowerbird é capaz de criar complexas estruturas para atrair fêmeas (http://www.youtube.com/watch?v=GPbWJPsBPdA). O pássaro não apenas cria a estrutura com galhos, mas também cria decoração no interior e exterior da estrutura. Há também experimentos (http://en.wikipedia.org/wiki/Mirror_test) que sugerem que consciência (autoconsciência) aparece em outras especies de animais, como outros primatas, golfinhos, elefantes e até pássaros.
Uma das grandes conquistas de nossa especie parece ser a habilidade de transmitir dados (memoria) não apenas diretamente de um individuo para o outro, mas também indiretamente por meio de gerações e por códigos sensuais e mídia exterior, como desenhos numa caverna. É importante, porém, notar que há evidencia de outras especies parecem ser capazes de comportamentos análogos. Animais sociais como golfinhos (http://www.pnas.org/content/102/25/8939.full), lobos e pássaros, mostram comportamento consistente com aquele que encontraríamos se a especie fosse capaz de manter cultura.
Em vista destes casos, parece mais seguro assumir que os processos responsáveis pelo desenvolvimento de todas as outras formas de vida no planeta são também responsáveis pelo desenvolvimento dos seres humanos (e tudo que engloba ser humano).
Um potencial criativo implantado sem a possibilidade de graduação entre o figurativo e o esquemático é totalmente plausível…
Há diversas explicações consideradas plausíveis quando trata-se da descrição (ainda mais quando forense) da realidade. No entanto, é geralmente (senão sempre) mais sensato fazer afirmações para as quais haja disponível evidência verificável.
Quando um descrição da realidade requer a inserção de milagres para sua validação (http://en.wikipedia.org/wiki/Occam%27s_razor), esta simplesmente falha em descrever a realidade até que haja explicação viável e verificável para o milagre. È bom notar que neste caso a descrição falha em sua mais importante função (talvez única), descrever. Geralmente tais descrições da realidade fazem suposições que criam novos problemas do mesmo gênero do problema original. É como responder uma pergunta com outra pergunta, que requere uma resposta e talvez não responda a pergunta original.
A panspermia é uma resposta à pergunta: Como a vida surgiu na terra? É considerada plausível, no entanto, desde que ainda não encontramos formas de vida em outro planetas, não podemos comprovar vida extraterrestre. Caso encontremos prova de vida extraterrestre, ainda sim não responde a pergunta original, pois vida poderia ter surgido em diferentes planetas sem a necessidade dela ter sido transportada via pedras flutuando no espaço de um planeta para o outro. Agora, pelo argumento, consideremos que prova da panspermia seja encontrada e esta torne-se a explicação padrão de como a vida surgiu na terra, ainda sim somos deixados com uma pergunta, Como vida surgiu primordialmente? ou apenas, Como a vida surgiu?
A ultima frase deste título faz a uma série de afirmações: “A existência desse mapa estelar na caverna de Lascaux mostra que o conhecimento do homem já era avançado e preciso antes mesmo do Período Neolítico, fato que desconstrói o conceito de arte pura dessas imagens e ascende teorias panspermistas. “ Gostaria de discutir apenas a ultima afirmação fazendo a pergunta:
Como a existência de um mapa estelar na caverna de lascaux ascende teorias panspermista?
Como vejo, uma implicação de assumir tal sugestao é que os sistemas biológicos introduzidos na terra por meteoritos, por exemplo, de alguma forma foram capazes de manter intacta a informação sobre sua procedência, dentro do sistema biológico, por bilhões de anos e enfim, seres humanos que pintaram formas na caverna de lascaux, foram capazes de recuperar aquela informação e pintá-la nas paredes. E ainda mais, desde o momento que seres humanos pintaram tal informação, ela de alguma forma se perdeu do nosso sistema biológico e temos que utilizar outros métodos, menos diretos, como a interpretação e a criatividade para detectar aquela informação nas pinturas cavernas de lascaux. Agora, o que é mais provável? A explicação acima ou alguém tenha predisposição à ideia de que a vida de formou por panspermia apenas por que gostam da ideia? A segunda não requer milagres, o que a faz mais provável ou mais plausível.
Eu diria que alguém seria ainda mais tendencioso e faria o argumento de que, na verdade, a memoria sobre nossa procedência não ficou gravada nos sistemas biológicos em si, mas foi introduzida aos seres humanos por formas vida extraterrestres que desenvolveram tecnologia que os permite viajar grande distancias no espaço sideral ou, de alguma forma, capaz de transmitir para nós informação sobre nossa precedência e que aqueles que fizeram as pinturas receberam tal informação. Primeiro, é importante notar que uma ideia como esta não reflete ou representa a teoria da panspermia (http://en.wikipedia.org/wiki/Panspermia#Proposed_mechanisms). Segundo, digamos que seja verdade que extraterrestres comunicaram-se conosco 30 mil anos atrás de alguma forma, como podemos afirmar que o que eles disseram é verdadeiro?
Para afirmar tal coisa, necessitamos da pressuposição de que tudo que extraterrestres dizem é verdadeiro, ou seja, de que criaturas das quais não sequer sabemos da existência, não são capazes ou não teriam interesse de mentir. Se, por exemplo, amanha uma espaçonave extraterrestre pousa na minha frente, seres com corpo fino e cabeça e olhos enormes saem da espaçonave e dizem-me que são responsáveis pela minha criação e pela criação de todos outros seres humanos, não devo necessariamente acreditarei palavra na palavras deles, pois as palavras deles sozinhas não provariam nada. Para acreditar em tal, eu requisitaria provas e transparência sobre o fato para que possa ser transmitido para outros seres humanos e comprovado. Pois é muito provável que aqueles seres também obedeçam as normas da termodinâmica e talvez necessitem de energia e matéria para manutenção de suas vidas e reprodução de sua especie. Extraterrestres poderiam muito bem estar investidos na escravidão ou extinção da especie humana, para controle das recursos do planeta terra.
O que me parece mais plausivel é que conectar possíveis mapas estelares desenvolvidos por seres humanos à teoria de panspermia ou como indicação de que alienígenas alteraram a vida na terra é muito mais do que um salto logico. È, em vez, uma sugestão extremamente tendenciosa que reflete apenas os desejos daqueles que a afirmam e esta longe de descrever a realidade.
Se compreendermos que o projeto humano é recriado pela consciência constantemente, através da linguagem ou das linguagens, aceitaremos o fato de sermos “sensivelmente diferentes” das demais espécies terrestres, com sentimento de responsabilidade por elas. Concordo que a des-humanização é uma lógica que distancia nossa espécie do princípio prepotente de humanização de habitats, processos e organismos. Portanto, funciona como oriente de insignificância específica e de responsabilidade moral.
Pelo que o camarada Wérllen considera, e encontro sentido em suas palavras, o agenciamento fisiológico de uma interface mais complexa requer componentes sensíveis mais abrangentes.
Segundo Amit Goswami: “Os campos morfogenéticos não guiam a forma física por interação direta; na verdade, a consciência usa os campos morfogenéticos como projetos que direcionam a escolha de uma forma específica, dentre milhares de possibilidades quânticas da matéria. O corpo físico, portanto, é uma representação dos campos morfogenéticos. Essas representações são as formas programadas e dotadas de propósito dos corpos biológicos”.
A consciente capacidade de interagir com os campos morfogenéticos (criação de formas biológicas) determina a diferenciação e a associação, a figuração e a esquematização dos fenômenos universais da comunicação. Sendo assim, podemos encontrar sentido entre o que o filósofo alemão anti-humanista Jurgen Habermas acredita, “o paradigma não é mais a observação, mas a comunicação”, e o que Amit acredita, “Não há interação dualista, apenas identificação e escolha”.
Considerando esses campos morfogenéticos epigenéticos como Amit considera (externo aos genes), não consigo imaginar microorganismos extremófilos como consciências, mas como inteligências funcionais com software e hardware projetados para a exploração de um meio específico. O curioso é o que a linguagem apresenta como matéria para o processo de evolução material e sensível: interfaces biológicas técnico-científicas agenciadas por unidades cósmicas intangíveis.
Por fim, enxergando a panspermia como um movimento fertilizante que contraria a expansão do universo por canais de comunicação atemporais, que podem aproximar realidades distintas, incompreensíveis, posso crer que os mapas pré-históricos são símbolos de projeção consciente do impulso reverso que localiza o homem no espaço e em seu tempo. Então panspermia designa o movimento genético involuntário causado pela litopanspermia interestelar; e o movimento sensível voluntário ou “metapanspermia” interdimensional.