2ª EXPEDIÇÃO REBIO 2BOCAS
A equipe do Instituto Últimos Refúgios (UR) chegou segunda-feira (23/04) à Reserva Biológica Duas Bocas (Rebio 2Bocas), mais precisamente às 17h30. Sendo assim, o final do dia serviu apenas para organizar os equipamentos e repasar o planejamento de produção. Saímos na madrugada do dia seguinte para distribuir ceva (alimento) para os animais em pontos estratégicos da floresta. A estratégia procura atrair mamíferos e aves para locais onde possam ser fotografados e filmados.
Gastamos toda manhã e grande parte da tarde fazendo isso, algumas vezes acompanhados por grupos de macaco-prego que, incomodados com nossa presença, atiravam galhos tentando nos intimidar. A população dessa espécie de macaco é bastante numerosa dentro da Rebio 2Bocas, quase sempre estão nos arredores da represa.
Quando retornamos ao alojamento, encontramos pesquisadores cariocas da UFRJ e do Museu Nacional, e também biólogos capixabas do Museu Mello Leitão. Ambos estavam pesquisando espécies de peixes pertencentes ao corpo hídrico das Reservas Biológicas do Espírito Santo, a fim de criarem um gráfico comparativo através do estudo, já realizado, das espécies encontradas em áreas não protegidas do estado. Uma forma de detectar a intensidade do impacto ambiental nas populações de peixes de água doce. Assim, combinamos uma entrevista para o dia seguinte.
Na quarta-feira (25/04), fomos logo cedo à represa velha tentar surpreender animais. Seu Toninho, um exímio mateiro estava lá pra nos ajudar. Não demorou para encontrarmos macacos-prego e ouriços. Além disso, muitos pássaros foram avistados, entre eles o anu branco e as saíras multi-coloridas. Registramos belas imagens dos animais e do riacho que surge dentro de uma gruta de pedra. Depois fomos checar as cevas para saber se os animais estavam presentes no local, e foi o que constatamos, mangas e abacates mordiscados.
Já na barragem próxima a sede, encontramos uma cobra preta, uma víbora? Vendo o bicho mais de perto, consideramos a possibilidade de se tratar de uma espécie de lagarto. Suas patas estavam atrofiadas, não tinham mais função, por isso ele se movimentava rastejando como uma cobra. Em baixo dos olhos haviam listras pretas e amarelas, um outro sinal estranho para uma cobra. Incrível!
Ainda perto dali, encontramos no corrimão da barragem uma pequena e fina cobra cipó, disfarçada como um graveto. Seu Toninho logo a agarrou com as mãos para colocá-la numa árvore.
Longe dali, a equipe do documentário entrevistava Dona Herlânia Ribeiro, uma antiga moradora da região que, em tom de conversa, nos contou sobre o tempo em que as casas eram feitas com a areia retirada do rio. Não havia asfalto nessa época, nem as comunidades que atualmente compõem a paisagem urbana do entorno de Cariacica Sede. Infelizmente essa simpática senhora nos disse que está de mudança para a cidade. Emocionada, ela conta que há pouco tempo uma gigantesca pedra rolou morro abaixo durante uma forte tempestade, e que por muito pouco não atingiu sua casa.
De volta para a sede da Rebio, encontramos o professor da UFRJ Marcelo Ribeiro e a professora Luísa Soares do museu Mello Leitão de Santa Teresa. Eles nos contaram um pouco sobre o trabalho que realizam, primeiro capturando espécies de peixes nos corpos d’água para depois analisá-los em laboratório. Quando a entrevista se encerrou já era noite, por isso, aproveitamos para registrar imagens do céu estrelado.
Na quinta-feira (26/04), o barco nos levou até o interior da reserva pra verificar uma toca de paca que o mateiro Toninho descobriu. Mas as pacas não estavam lá, talvez porque haviam muitos macacos fazendo barulho nas árvores. Mesmo assim, Toninho descobriu um ouriço isolado no alto de uma árvore. Na volta, ao passar por um local de ceva, topamos com caitetus acelerados que sumiram no meio da vegetação.
A tarde da quarta-feira começou com a chegada da equipe de filmagem subaquática, que imediatamente foi até a represa fazer as marcações dos locais de mergulho. Perto dali era possível ver um grande jacaré-do-papo-amarelo, imóvel. Devia ter 2m, mas o importante é que ele nos deixou aproximar para fazer o registro. Ganhamos a tarde sem perder o braço!
A noite ficou reservada para as pacas. Montamos o equipamento de monitoramento e aguardamos pacientes a chegada do animal. Depois de algum tempo, conseguimos fotografar duas pacas, mas elas se posicionaram em um péssimo ângulo, de modo que o registro não valeu para o livro, ficamos devendo…
No entanto, retornando para o alojamento cuidadosamente suspeitei que, exatamente no meio da barragem, havia uma cobra. Uma jararaca! Manipulamos a serpente com muito cuidado, buscando posicioná-la e movimentá-la. Ela dava um bote longo quando enrolada, e dois curtos em movimento. Torramos a paciência do animal, que passou a tentar fugir sem sucesso.
Na sexta-feira (27/04), o penúltimo dia da segunda expedição, chamamos um antigo morador da região para nos guiar pela região do Alto Alegre. Seu João nos levou até uma grande cachoeira depois de horas de caminhada.
Fotografamos e filmamos pássaros raros, por exemplo, tangarás dançarinos, mas nenhum outro animal foi avistado. Enquanto isso, outra equipe foi checar os pontos de ceva e teve uma grande surpresa! O urubu-rei apareceu no ponto de ceva de carniça, porém, a equipe de registro estava longe dali. O urubu-rei é um animal marcado na nossa lista de prioridades.
No dia seguinte, Toninho e João foram atrás de uma montanha, um lugar chamado de porteira preta, para checar informações do guarda noturno, proprietário do local, que afirmou ter escutado o rugido da onça. Lá eles descobriram uma extensa gruta com muitos rastros de pacas, cutias e da jaguatirica, uma espécie de felino de médio porte que pode pesar cerca de 16Kg e chegar a um metro de comprimento. Excelente cenário para montarmos o equipamento de monitoramento.
Enquanto isso, fomos montar o equipamento de monitoramento onde o porco do mato foi avistado dias antes. Já na margem da represa, montando o equipamento, avistamos um casal de ariranhas nadando. Rapidamente pegamos a lancha para registrar, mas já estava tarde e sem iluminação suficiente. Só pudemos vê-las escondidas entre as raízes que terminavam dentro da água.
A equipe se posicionou dentro da barraca aguardando algum animal chegar no ponto de ceva. Ao invés do porco-do-mato, uma paca foi monitorada comendo manga. Foi quando percebemos que a barraca de monitoramento estava sobre num plano inclinado, por isso passou a escorregar criando uma situação inusitada. Por fim, a barraca se movimentou para o meio da trilha das pacas que, ao perceberem a nossa presença, saíram correndo e gritando…
Sábado (28/05) foi o último dia da expedição, que amanheceu com a presença do araçari, uma ave de 35cm semelhante ao tucano, passeando pelas árvores do alojamento. Depois desse presente fomos embora satisfeitos!
Viajei junto… adorei as fotos e o texto.