3ª EXPEDIÇÃO REBIO 2BOCAS
A terceira expedição à Reserva Biológica Duas Bocas (Rebio 2Bocas) começou numa manhã de terça-feira. Percorremos os pontos de ceva (alimentação) que definimos desde a primeira expedição, reabastecendo-os com abacate, mamão, manga para pacas, cutias e cuícas, com aipim para caitetus, e com carniça para gatos-do-mato e jaguares.
Um desses pontos de ceva foi instalado próximo a sede para fotografar pacas no início da noite, no entanto, problemas técnicos no disparador da câmera interromperam o trabalho obrigando um inesperado retorno até Vitória para resolver o problema.
Enquanto isso, parte da equipe se dirigiu para o Alto Alegre, uma região com 800m de altitude com mata densa preservada onde espécies específicas se refugiam, como por exemplo, o macaco guariba (bugio) conhecido pelo seu alto e grave vocal. A ideia é que a equipe liderada pela bióloga Cláudia Pimenta faça o mapeamento da trilha que liga a região do Alegre até a represa da Rebio 2Bocas. O percurso de 16 Km de estrada de chão beira o limite da Rebio 2Bocas cortando pequenas propriedades, lagos e vales até a Região chamada de Pau-Amarelo. Desviamos por outro caminho que termina em um abrigo da Rebio 2Bocas, uma casa simples colada na mata. O tempo estava chuvoso e logo escureceu, porém, a casa estava sem energia devido a um simples desarme rede elétrica. Restou uma fria escuridão…
Pra quem ficou na sede, a quarta-feira começou com a verificação dos pontos de ceva. No trajeto encontramos uma garça noturna sobrevoando a represa e pousando nas árvores mais altas. As cevas indicaram a presença de animais noturnos. Depois disso parte da equipe foi ao mirante da pedra da onça fazer imagens da ampla paisagem, e outra equipe foi no morro da porteira preta instalar a câmera trap para tentar registrar a jaguatirica. O tempo continuava fechado com pancadas de chuva forte.
Arriscamos sair à tarde de lancha para vasculhar as margens do Rio Panela de água cristalina. Lá encontramos pegadas frescas da jaguatirica, mas a chuva forte nos fez retornar para a sede apressados. Quando a chuva deu uma trégua, voltamos a fazer imagens da paisagem. Também aproveitamos a chegada do cinegrafista subaquático para realizar imagens dentro do poço de coleta de água da CESAN que fica atrás da barragem. Nesse momento, um casal de araçari foi avistado em uma árvore próxima, e marrecos selvagens passaram como flechas sobre nossas cabeças.
Ao anoitecer, com o equipamento de monitoramento consertado, monitoramos o mesmo local da noite anterior. Sem muito suspense descobrimos uma paca se alimentando, perfeitamente posicionada. CLACK! Mais uma foto exclusiva para o livro fotográfico da Rebio 2Bocas. Na volta ainda encontramos capivaras no campo aberto da represa, gordas e ágeis.
Exatamente às 21h40, Cláudia chegou exausta com sua equipe. Eles caminharam quase 16 horas pela floresta para chegar a sede. Avistaram muitas jararacas e picos-de-jaca, mais do que esperavam. Também registraram diversas espécies de pássaros, como por exemplo o tangará e o curió. Assim fomos imediatamente levá-los de volta ao Alegre para que voltassem no dia seguinte com todo equipamento. No caminho cheio de lama, o farol do carro era ofuscado pela chuva e pela neblina, mesmo assim iluminou dois gambás na beira de um pasto. No entanto, quando estávamos a poucos quilômetros do abrigo fomos impedidos por uma porteira trancada com corrente e cadeado (tempo de insegurança). Apesar de cansados, Cláudia e sua equipe tiveram que continuar a pé por mais 20 minutos. Voltamos ligeiros.
Na quinta-feira (24/05) o tempo firmou e o sol reapareceu. Rodrigo, o cinegrafista subaquático, saiu para mergulhar com sua equipe na divisa do Rio Panelas com o Rio Pau-Amarelo, mas a água estava turva com baixa visibilidade, sendo assim, ele fez imagens split, que é quando metade da câmera fica submersa metade imersa na água.
Enquanto isso parte da equipe foi à região de Pau-Amarelo onde existe um Jequitibá gigante, uma árvore com 30m de altura. Uma das poucas poupadas do corte. Próximo ao Jequitibá foi possível avistar uma outra espécie de gavião pombo, menor e mais raro, planando à procura de alimento.
Cláudia e sua equipe saíram para renovar e analisar os pontos de ceva com um barco à remo, em silêncio. Assim, encontraram um casal de macacos-prego se alimentando na margem da represa e novamente a garça noturna. Além disso, espécies de bem-te-vi, uma rara espécie de garça azul e a garça branca pequena. Analisando a câmera trap nos locais de ceva descobrimos que os macacos-prego estavam roubando as frutas, até mesmo o aipim. Macacos… sempre sagazes e malandros.
Finalmente a noite chegou na Rebio 2Bocas para algum descanso. O céu entre aberto revelou estrelas e nuvens passageiras que animaram vídeos através da técnica Time-lapse, além disso, um morcego morto encontrado na varanda do nosso alojamento virou material de experimentação fotográfica.
Sexta-feira (25/05), só nos restavam dois dias. Fomos checar a câmera trap (armadilha fotográfica) deixada na toca da jaguatirica, mas nada foi constatado. Na volta, um organizado ataque de marimbondos testou a esperteza da equipe. Corre!!!
A outra câmera trap que permaneceu 2 dias na floresta registrou pacas, nada de diferente. Nesse dia os animais estavam escondidos, nada era visto. Numa prosa com o guarda o parque Mário, ficamos sabendo que há 15 anos uma seca histórica afetou a reserva de água da Rebio 2Bocas. Mário disse que lagoas menores lotadas de peixes que se debatiam enclausurados foram formadas na área antes submersa. Disse também que os pescadores iam à noite escondidos pegar os peixes nas lagoas rasas. Mais tarde, entrevistando o pesquisador Celso Caus, fiquei sabendo que a seca pode ter sido um esvaziamento proposital feito pela Companhia de Água para a instalação dos tubos de distribuição de 500mm, no lugar dos de 250mm.
À tarde um bom sinal. Andando próximo ao laboratório, o mateiro avistou pegadas da jaguatirica. Incrível que esse animal tenha passado tão perto de nós. Logo montamos o equipamento de monitoramento no local espalhando pedaços de bacon para atraí-la pelo olfato. Ficamos até as 4 horas da madrugada pra pegar a jaguatirica, mas nada foi visto.
Mesmo dormindo tarde, acordamos cedo no sábado para vasculhar as margens da represa com a lancha. Com sorte, encontramos o socó-boi, o martim pescador e um grande jacaré-do-papo-amarelo que nos permitiu aproximar pra fazer ótimo registro.
Já de volta ao abrigo, durante uma caminhada pelas dependências da Rebio 2Bocas, encontramos uma cobra-cipó com quase 1 metro atacando uma perereca verde com detalhes pretos. Pegamos os equipamentos e registramos o final da cena, a cobra cuspiu a perereca e ficou abrindo e fechando a boca, depois fugiu para um arbusto assustada com a nossa presença.
Descansamos um pouco à tarde, mas logo fomos renovar a ceva de carniça para o urubu-rei em dois pontos distintos. Por fim, montamos novamente o equipamento de monitoramento próximo ao laboratório, mas a jaguatirica não apareceu. Ficamos um pouco chateados por não ter conseguido a imagem da jaguatirica, nem a do urubu-rei, mas continuamos confiantes que na próxima expedição iremos encontrá-los.
Domingo (27/05), após uma volta de barco na represa sem novidades, retornamos para vitória contetes com o resultado da terceira expedição à Rebio 2Bocas!