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“UMA” será exibido hoje no Cine Metrópolis – entrevista com o diretor Alexandre Barcelos

É hoje, dia 21, a exibição do filme UMA, do diretor Alexandre Barcelos, no Cine Metrópolis, a partir das 19h, na Mostra Competitiva Capixaba da VII Mostra Produção Independente – A Sétima Arte Vai ao Mercado. A próxima exibição do Uma já está marcada e será no 18º Vitória Cine Vídeo, que será realizada entre os dias 7 e 12 de novembro, na Fábrica do Trabalho em Jucutuquara. O filme foi selecionado para a 15ª Mostra Competitiva Nacional desse evento, dentre os 5 filmes capixabas que concorrerão com mais 29 obras provenientes de todo território brasileiro.

UMA foi filmado pelo diretor Alexandre Barcelos em parceria dos profissionais da Kalakuta, empresa especializada em produção audiovisual de filmes, curtas e documentários. As localidades presentes na obra são diversas e abrangem o Brasil e a cordilheira dos Andes. Assim foi possível compor imagens que se diluem em meio ao diálogo junto a sons da natureza e cidade, que flutuam sobre a trilha sonora mágica e atmosférica da música Aerial, do artista Moby, e dos arranjos de tensão incluídos pelo coletivo Expurgação e pelo produtor, músico e compositor Giuliano de Landa.

Os momentos capturados e condensados no filme são diversos, mostrando momentos universais, ao exemplo das imagens microscópicas realizadas nos laboratórios da Unicamp, às imagens astronômicas realizadas no observatório GOA na Ufes, e os timelapses feitos no Sítio Javali, em Viana. Além desses há momentos de experimentações plásticas utilizando tintas e sua interação com vibrações sonoras, e um vasto repertório fotográfico de paisagens estonteantes que abrangem a densa mata atlântica do município de Viana no Espírito Santo, a grandiosidade dos vales da Chapada Diamantina na Bahia, a caoticidade da métropole São Paulo, alguns aspectos misteriosos e acontecimentos inesperados presenciados em São Tomé das Letras em Minas Gerais e as maravilhas visuais manifestadas e presentificadas nos picos Andinos.

EQUIPE UMA

Produção: Lorena Louzada
Assistente de produção: Leonardo Prata
Diálogo: Raphael Gaspar e Zulmario Tebaldi
Pesquisa e Roteiro: Felipe Mattar, Huemerson Leal, Ivan Consenza, Raphael Gaspar e Wérllen Castro
Fotografia: Alexandre Barcelos, Francisco Neto, Tiago Rossmann, Reinaldo Guedes
Imagens de Apoio: Laboratório de Proteômica e Genômica – Unicamp, e Equipe GOA, Ufes
Edição de Vídeo: Alexandre Barcelos, Felipe Mattar, Reinaldo Guedes
Captação de Som: Arthur Navarro e Huemerson Leal
Trilha sonora: “Aerial” do Moby, Expurgação e Giuliano de Landa
Mixagem: Alexandre Barcelos, Arthur Navarro e Denilson Campos
Produção Executiva: Lorena Louzada
Projeto Gráfico: Francisco Neto, Gustavo Senna, Raphael Gaspar, Wérllen Castro.

RESENHAS

Uma é o cinema no extremo da fotografia e, a fotografia no extremo do cinema, a narrativa de imagens obtidas através de diversos métodos, intercaladas com o diálogo de dois sujeitos que se conhecem. Cria a partir da experimentação visual e técnica atmosferas para o olhar, até mesmo aquele mais desconfiado. Os ciclos com suas gerações, materiais, movimentos e suas novas combinações para a criação de novos ciclos e significados. Transforma a relação entre microcosmos e macrocosmos em multiplicidade. A mesma existente na realidade que dessa vez invade seu recorte, pelo menos o cinematográfico, construindo coletivamente a riqueza de uma obra”. Leonardo Prata, escritor.

O curta-metragem UMA carrega uma mensagem de universalidade e autoconhecimento muito sutil, no entanto, mostra intensivamente fotografias complexas, por vezes abstratas e padronizadas em diferentes composições. Do microcosmo ao macrocosmo são vistos detalhes humanistas costurados em representações fotográficas animadas. Desde a origem imaterial até a metamorfose retroativa da matéria, o homem existe por meio de uma imagem projetada no ambiente e na imaginação, o que a cada momento confirma a existência de vários personagens num mesmo “ser” – que se mistura e se refaz através da gravidade dos entes. O vídeo cria uma atmosfera sonora de imersão, por fim pervasiva, tratando do fenômeno da abstração, que é o elemento primordial no processo de aprendizado humano, de forma esplendorosamente fotográfica. Por isso, transporta o espectador para ambientes concorrentes onde a vida pulsa (in)voluntariamente – em ciclos espiralados”. Raphael Gaspar, design gráfico e pesquisador cultural.

Um filme de fotografia esplêndida que utiliza técnicas de captura de imagem experimentais, fundindo tecnologias digitais e analógicas. Essa fusão representa as estruturas do universo sob a perspectiva de um conjunto de indivíduos, reveladas em imagens que variam desde a imensidão de paisagens até de microorganismos vivos. Tudo isso sob uma trilha sonora envolvente que nos leva à metáfora de que todos somos”. Francisco Neto, fotógrafo e músico.

Equipe Kalakuta nas produções do filme UMA, em São Tomé das Letras, MG

ENTREVISTA COM O DIRETOR ALEXANDRE BARCELOS

No dia 02 de dezembro de 2010, durante o processo de produção do filme, realizamos a entrevista abaixo com o diretor Alexandre Barcelos sobre o filme UMA, suas pesquisas e visão de mundo:

Quando surgiu o seu interesse por produção audiovisual?

O primeiríssimo contato com vídeo que eu me lembro é curioso, foi uma filmadora que meu pai tinha, ele ia jogar fora. Isso eu tinha uns 10, 11 anos de idade. Eu conhecia e conheço ate hoje, o Oswaldo, um eletricista que desbloqueava videogame. Ai quando levei a câmera pra ele botou pra funcionar.. Ai eu mulecão comecei a brincar com a câmera. O vídeo começou ai. Depois ate fiquei um tempo sem mexer um pouco com vídeo, sempre que podia ia e registrava com VHS alguma coisa,  mas só vi  a possibilidade trabalhar com vídeo depois de estudar engenharia. Estudei 2 anos na engenharia, e durante esses 2 anos também estagiei. Foi esse estagio que me mostrou um pouco do que eu poderia vir a ser trabalhando com engenharia. E ai eu fiquei um pouco com medo, e tentei buscar alguma coisa que eu gostasse mais de fazer.

 O que tem feito ultimamente nesse campo de trabalho?

Eu tenho trabalhado com umas produções de vídeo e áudio, como o álbum do coletivo Expurgação, e do Fepaschoal. Tenho trabalhado bastante com o Uma, que é o curta. Tanto a parte fotográfica e de montagem, como o áudio também. E esse trabalho de áudio é interessante porque é um desafio né, pra mexer com essa potência do audiovisual relacionado a imersão. Eu to me desafiando a estudar 5.1 pra fazer o curta-metragem em 5.1. E estou conseguindo.

Gostaria que comportilhasse como surgiu a idéia de fazer o filme Uma.

A idéia do Uma surgiu na casa do Werllen, um amigo. Durante um bate-papo rolou uma musica do Moby, e ela tem uma atmosfera mais contemplativa, chill out, mais sinestésica, a musica induz a um pensamento. Então surgiu a idéia a partir disso pra mostrar um pouco das repetições que a gente vive, ciclicamente durante a vida, inclusive faz esse paralelo com a morte também,  tentando representar isso de forma lúdica, né, não como uma verdade absoluta, mas como um meio de representação mesmo, sem muita intenção de fechar uma idéia. O filme surgiu dessa idéia e teve o roteiro pré estabelecido como uma sugestão pra Lei de Incentivo Rubem Braga.  A gente queria tratar de sincronicidade, repetições, então nada mais justo do que viver essa sincronicidade, viver essa repetição, você ir pra um lugar ver o que ta acontecendo lá e essa representação acontece de forma visual e sonora.

A idéia do filme surgiu enquanto você escutava a musica do Moby. Como foi o processo pra poder utilizar uma música dele como trilha sonora do filme?

Então, foi uma dessas coincidências, ou sincronismos, a busca ter sugido da musica, ouvindo o Moby, e depois na UFES, conversando com Juliano e o Alex, o Alex comentou, porque eu disse que tava querendo fazer com a musica do Moby, mas não sabia o que faria com o direito autoral, e ele falou, ‘cara, o Moby vem de uma coisa mais punk e tal, e ele tem a cabeça aberta em relação a algumas coisas, entra no site dele pra ver se ter alguma coisa, se você consegue falar com ele, e ai no mesmo dia eu entrei no site, e tinha lá o link, Moby Grátis, justamente para videomakers independentes. Na mesma hora eu escrevi a idéia do projeto, na verdade quando eu escrevi eu falava mais de contrastes social brasileiro, de viajar pros lugares e ver a diferença entre o modo de levar a vida das pessoas, só com imagem, sem rostos, sem expressão facial, pensei em adotar essa idéia porque a expressão fala muito né? Sendo que as vezes é interessante você olhar uma pessoa no local, o ambiente que a pessoa ta vivendo pode dizer bastante sobre ela também, sem que haja um julgamento pela expressão da pessoa, e ai eu mandei essa proposta pro site. A coisa foi tomando outra forma, dentro dessa idéia surgiu, a gente conversava muito sobre padrões, fractais, e  essa geometria sagrada que rege a natureza em vários pontos, e como seria legal fazer isso abordando esse tipo de linha visual, a gente ta mostrando esses padrões, e eles estão presentes em muita coisa, tanto numa escala maior como numa escala menor. Ai rolou de ser aprovado, e o Moby liberou a musica pra download, fiz o download, e ela vai ser um pedaço da atmosfera do filme.

 Quando surgiu a idéia de fazer o filme?

No final de 2008. Quando eu tava começando a pesquisar sobre adapatdor 35mm pra câmera popular. Estou fazendo ele todo em digital, com óticas 35mm, e me desafiando a fazer um processo novo, que é fazer um transfer de material digital pra película, pra ser exibido em 35mm mesmo, pois eu nunca tive contato e to buscando isso pra ver como fica esse resultado.

E essa pesquisa, como é que foi essa pesquisa? Do que se trata esse adaptador?

Sempre me indaguei sobre a relação de aspectos entre a filmadora e a máquina fotográfica. E ai questionando essa diferença, o adaptador veio a calhar porque ele desdobra o resultado do vídeo sugerido pela industria com sensor pequeno e a imagem chapada, inclui nele essa coisa de brincar com os planos, evidenciar alguns planos, deixar outros pra trás. Essa pesquisa ajudou a experimentar esse aspecto diferenciado e me impulsionou a fazer um filme com essa ferramenta com baixo orçamento. O filme tem muita imagem da 5D, uma dessas DLSR com lentes 35mm mais baratas em termos custo beneficio, porem com alto poder de captação de imagem, mas também tem de super8, vai ter de 16mm que to me desafiando a fazer, e câmeras compactas, HD, cenas com nankin, tinta, que foram captadas com ela.

 Queria que voce deixasse mais claro essa pesquisa, quando começou, porque começou, e qual o seu objetivo?

Eu estava pra me graduar na UFES, achei que seria interessante conduzir a confecção desse adaptador fazendo ele mesmo, pra saber como que a luz estava se comportando ali, por que que acontece esse desdobramento da imagem? Se você colocar uma lente ali a câmera filma uma imagem projetada, estudar esse aspecto, esse caminho ótico da física. E assim incrementar o aspecto do vídeo, por um lado você tem o que é oferecido pela industria, e você compra uma filmadora e você filma do jeito que ela filma, a imagem ta ali sendo produzida, grande parte ali é a câmera que ta oferecendo, e por outro lado a vontade de desdobrar pra outras imagens, pra outros tipos de imagem. No inicio o filme Uma seria um projeto de graduação,  só que daria muito trabalho, mas fora essa pesquisa técnica e artística, que é um incremento técnico pra uma produção artística, rolava essas pesquisas e experimentações, pintando e fazendo experimentos sonoros, tirando sons de coisas que antes não tirava. O filme agregou alem dessa coisa de pesquisa técnica do adaptador, o comportamento das ondas e das matérias, de observar os padrões naquele comportamentos, então o filme é o reflexo dessa vivência, dessa pesquisa experimental de materiais, e pesquisas da ótica e aspectos da imagem.

 Esse mesmo adaptador você mesmo fez, manufaturado?

Isso.

Quando surgiu a idéia de fazer ele?

Em 2009.

E ai você levou quanto tempo pra fazer?

Eu fiquei mais ou menos um ano trabalhando no projeto de graduação, foram uns 3 periodos pra fechar o projeto. Teve uma fase de teste que eu usava materiais mais baratos.

Que tipos de material?

A principio embalagem de xampu, cartolina, plástico e arame. Depois vendo a necessidade de ter uma segurança e estabilidade pra utilizar, pra não ter que ficar gastando tempo com melhorias e colocar o negocio pra funcionar, ele caminhou pro PVC e plástico, de espessura firme e parafuso, ai ficou mais firme, mais denso, ainda assim protótipo, porem a intenção não era produzir uma escala industrial pra venda, era mostrar que com material de baixo custo você consegue confeccionar um adaptador de lente 35mm pra colocar na sua câmera popular, ate na sua VHS você pode colocar. No projeto eu falo de alguns problemas assim em relação a adaptações pra lentes menores de filmadora que tem o diâmetro pequeno, pode ter sombreamento nos cantos. Mas a idéia é você poder colocar uma imagem de lente 35mm num equipamento de registro popular. Eu apresentei esse trabalho no final de 2009, e ai com 1 ano de formado agora eu to produzindo esse curta, aproveitando o embalo da pesquisa da ótica e as experimentações com o pessoal da república.

Gostaria que você citasse alguns trabalhos que fez antes de estar fazendo o curta-metragem Uma, e da importância que esse processo de vivencia tem no momento atual.

Num momento da minha vida eu fiz engenharia, e apesar de gostar de alguns campos da engenharia de desenvolvimento de idéias eu ainda sentia falta de poder pensar em trabalhar com alguma coisa que eu gostasse mais, tipo um hobby. E no DI eu vi essa possibilidade e talvez me especializar em alguma coisa ali. Nessa época da engenharia eu tocava no Dead Fish, e nessa época comprei uma câmera miniDV, e conhecendo o pessoal assim rolou umas possibilidades de fazer videoclipe, do Merda, do Mukeka di Rato, dos Pedrero, e ali pude enxergar uma possibilidade de desenvolvendo melhor o trabalho com vídeo e fotografia. Ai dentro do curso eu comecei a ter um carinho maior por fotografia, que me ajudou a desenvolver muito o olhar sobre vídeo, esse olhar mudou bastante. Ai rolou de fazer esses vídeos com o Merda, com o Mukeka. Na época rolou muito experiências com musica, no Mono, Antemic, e ai deu pra aprender muita coisa em relação a mixagem, comportamento sonoro, isso me interessava nesse campo audiovisual, e hoje acabaram refletindo de uma forma positiva na visão do Uma, já que é um trabalho completo de vídeo, imagem em movimento e som.

Essa questão da vida que você falou, acho que reflete no conceito do Uma também, e acho interesse você falar o que você imagina da vida, e da morte também, desse ciclo. A religião pode ser um ponto de partida. Você tem?

Se existe alguma religião  dentro de mim é uma mistura, tentar encontrar com meu filtro um equilibro de pensamento entre todos esses pontos de vista, que no final acabam convergindo para uma coisa só, né? O mistério da vida.


 

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ibrahim

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