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Edgar Morin: inteligência afetiva

Afetividade é uma manifestação da inteligência. “Quando retroagimos para aquém da humanidade, surpreendemo-nos pelo fato de que o desenvolvimento da inteligência entre os mamíferos (capacidade estratégica de conhecimento e ação) encontra-se estreitamente correlacionado com o desenvolvimento da afetividade”, pensou Edgar Morin (1998, p. 52).

Possivelmente, foi essa racionalidade que permitiu aos antropólogos ocidentais se darem conta de que “as culturas ditas primitivas não eram apenas uma rede de superstições, mas podiam comportar, igualmente, sabedorias e verdades profundas estritamente interligadas”, revelou Edgar Morin (1998, p. 56).

Até que ponto a nossa necessidade de conhecimento é ela mesma racional”, indagou-se o Edgar Morin (1998, p. 66)? Se a criatividade for responsável por essa necessidade de conhecimento, quais serão ou onde estarão as referências para um subsistema vivo desenvolver plenamente o seu intelecto?

Provavelmente na cultura. Logo, é notável perceber que a nossa necessidade de conhecimento surge e se manifesta através da cultura onde estamos inseridos. Atualmente, concordando com a visão do filósofo (MORIN, 1998, p. 66), “encontramo-nos em uma sociedade (entenda cultura) que tende a disjuntar prosa e poesia e na qual há uma imensa ofensiva da prosa ligada ao desenvolvimento técnico, mecânico, gélido, cronometrado em que tudo se paga, tudo é monetarizado”. “Prosa e poesia eram intimamente entrelaçados nas sociedades arcaicas, por exemplo, antes de partir em expedição ou no momento da colheita, havia ritos, danças, cantos”, comentou Edgar Morin (1998, p. 59). “A verdadeira novidade nasce sempre de uma volta às origens”, resumiu o poeta Edgar Morin (1998, p. 43).

Edgar Morin (1998, p. 37) argumenta que “houve duas rupturas entre prosa e poesia na sociedades contemporâneas ocidentais: a primeira ocorreu a partir da Renascença, quando se desenvolveu uma poesia cada vez mais profana; a segunda dissociação, entre uma cultura dita científica e técnica e uma cultura humanista, literária, incluindo a poesia, ocorreu a partir do século XVII”. E foi a partir dessas duas dissociações que a poesia autonomizou-se e tornou-se estritamente poesia, separando-se da ciência, da técnica e, evidentemente, da prosa. Além disso, depois desse cisma, houve duas revoltas históricas da poesia.

A primeira, conta Edgar Morin (1998, p. 37), foi a do romantismo, “principalmente o de origem alemã, que representou a revolta contra a invasão da prosaidade, do mundo utilitário, do mundo burguês, que se desenvolveu no início do século XIX”. “ A segunda revolta foi a do surrealismo, cuja ocorrência pode ser situada no século XX, que representou a recusa da poesia em se deixar reduzir ao poema”, completou Edgar Morin (1998, p. 37). Por fim, o contexto cultural ocidental criou as barreiras conceituais e ideológicas que, até hoje, dificultam o entrelaçamento entre os componentes da consciência poética e da prosa científica.

A via para reativar esse processo de “reforma do pensamento”, afirma Morin, é a interligação de todos os conhecimentos, o combate ao reducionismo instalado em nossa sociedade e a valorização da complexidade da vida.

Abaixo segue um fichamento do Livro “Amor Poesia Sabedoria”:
(p. 10) Nosso cotidiano vive sempre em busca de sentido. Mas o sentido não é originário, não provém da exterioridade de nossos seres. Emerge da participação, da fraternização, do amor. O sentido do amor e da poesia é o sentido da qualidade suprema da vida. Amor e poesia, quando concebidos como fins e meios do viver, dão plenitude de sentido ao “viver por viver”.

(p. 11) Tudo isso implica endossar a tensão dialogal, que mantém permanentemente a complementaridade e o antagonismo entre amor-poesia e sabedoria-racionalidade.

(p. 16) A palavra complexo deve ser entendida em seu sentido literal: complexus, aquilo que se tece em conjunto.

(p. 17) pode-se dizer que o amor decorre da linguagem… O amor, simultaneamente, precede da palavra e precede a palavra.

(p. 22) A possessão física que decorre da vida sexual reencontra a possesão psíquica oriunda da vida mitológica. Aí reside o problema do amor: somos duplamente possuídos e possuímos o que nos possui, considerando-o, física e miticamente, como nosso próprio bem.

(p. 23) O amor é filho de cinganos, é “enfant de bohéme”.

(p. 27) Sob ângulo da razão fria, o mito sempre foi considerado como um epifenômeno superficial e ilusório… Incluo-me entre aqueles que acreditam na profundidade antropossocial do mito, ou seja, em sua realidade… levar a razão a seus limites máximos conduz ao delírio.

(p. 29) Diante da ideia de desafio, é bom saber que há o risco do erro ontológico, da ilusão, e que o absoluto é, simultaneamente, o incerto.

(p. 29) Somos indivíduos produzidos por processos que nos precederam; somos possuídos por coisas que nos ultrapassam e que irão além de nós, mas, de certo modo, somos capazes de possuí-las.

(p. 36) Poesia-prosa constituem, portanto, o tecido de nossa vida.

(p. 37) Em nossas sociedades contemporâneas ocidentais, operou-se uma disjunção entre os estados da prosa e da poesia. Houve duas rupturas. A primeira ocorreu a partir da Renascença, quando se desenvolveu uma poesia cada vez mais profana. Ocorreu, igualmente, a partir do século XVII, uma outra dissociação entre uma cultura dita científica e técnica e uma cultura humanista, literária, incluindo a poesia. Foi a partir dessas duas dissociações que a poesia autonomizou-se e tornou-se estritamente poesia. Separou-se da ciência, da técnica e, evidentemente, separou-se da prosa.

(p. 38) Em nossa cultura ocidental, tanto a poesia quanto a cultura humanista foram relegadas. Relegadas no lazer e no divertimento, relegadas por adolescentes e por mulheres, transformaram-se, de algum modo, num elemento inferiorizado em relação à prosa da vida.

Houve duas revoltas históricas da poesia. A primeira foi a do romantismo, principalmente o de origem alemã. Representou a revolta contra a invasão da prosaidade, do mundo utilitário, do mundo burguês, que se desenvolveu no início do século XIX.

A segunda revolta foi a do surrealismo, cuja ocorrência pode ser situada no século XX. O surrealismo representou a recusa da poesia em se deixar reduzir ao poema, quer dizer, a uma pura e simples expressão literária. Não se trata de uma negação ao poema… mas a ideia surrealista é a de que a poesia extrai sua fonte da vida, com seus sonhos e acasos. O que ocorreu, então, foi uma desprosaização da vida cotidiana, que começou com Arthur Rimbaud…

(p. 41) A descoberta de nossa situação de perdição num gigantesco cosmos adveio das descobertas da astrofísica. Isso significa que, atualmente, é possível um diálogo entre a ciência e a poesia, e isso porque a ciência nos revela um universo fabulosamente poético ao redescobrir problemas filosóficos capitais…

(p. 42) Demo-nos conta de que o real, que parecia tão sólido e evidente, dissipou-se sob o olhar da microfísica, e que, do ponto de vista do cosmos, o tempo e o espaço, que pareciam tão distintos, se misturaram.

(p. 43) A verdadeira novidade nasce sempre de uma volta às origens.

(p. 52) Quando retroagimos para aquém da humanidade, surpreendemo-nos pelo fato de que o desenvolvimento da inteligência entre os mamíferos (capacidade estratégica de conhecimento e ação) encontra-se estreitamente correlacionado com o desenvolvimento da afetividade… Em resumo, a multiplicidade da afetividade contribui para o desenvolvimento da inteligência.

(p. 55) a racionalidade pesquisa e verifica a adequação entre o discurso e o objeto do discurso, mas a racionalização se fecha em sua lógica. Freud, porém, denominava”racionalização” a esta forma de delírio que, a partir de um postulado ou de uma constatação limitada, tira consequências lógicas e absolutas, perdendo, nesse processo, o suporte empírico… A racionalidade, em contrapartida, é aberta. Ela aceita que suas próprias teorias sejam “biodegradáveis”, que possam eventualmente ser superadas por argumentos ou acontecimentos que as contradigam.

(p. 56) Foi essa racionalidade que permitiu aos antropólogos ocidentais se darem conte de que as culturas ditas primitivas não eram apenas uma rede de superstições, mas podiam comportar, igualmente, sabedorias e verdades profundas estritamente interligadas.

(p. 59) Prosa e poesia eram intimamente entrelaçados nas sociedades arcaicas. Por exemplo, antes de partir em expedição ou no momento da colheita, havia ritos, danças, cantos. Encontramo-nos em uma sociedade que tende a disjuntar prosa e poesia e na qual há uma imensa ofensiva da prosa ligada ao desenvolvimento técnico, mecânico, gélido, cronometrado em que tudo se paga, tudo é monetarizado… Em resumo, a poesia é a estética, o amor, o gozo, o prazer, a participação e, no fundo, a vida!

(p. 66) Assumo mesmo a contradição entre uma curiosidade que me leva à dispersão e a necessidade de me reconcentrar para produzir o fruto de minha experiência e de meu pensamento, quer dizer, O Método. Por um lado, digo a mim mesmo que tenho necessidade de pensamento complexo – e sei que isso é racional… Mas ate que ponto minha necessidade de conhecimento é ela mesma racional?

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