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Conhecendo Confinópolis

Conhecendo o universo de Confinópolis

Confinópolis é um curta de ficção capixaba adaptado dos quadrinhos de Raphael Araujo, originalmente publicado (sem conclusão) nos primeiros números da Revista Prego. A versão cinematográfica da história, recém finalizada, é uma realização da Camarão Filmes & Ideias Caóticas, uma produtora vila velhense de vídeos famosa pelo humor caótico, o gore e a insanidade do município, a direção é do próprio autor e tem na equipe Alex Prego, Alexandre Brunoro, Guido Imbroisi. Confinópolis também contou com o apoio de diversas pessoas e coletivos, entre eles a Casa 16 e o Expurgação (a edição está por conta de Alexandre Barcelos e contou com as atuações de Leonardo Prata e Huemerson Leal).

Sobre o filme:

Confinópolis é uma cidade, um país ou um lugar onde o totalitarismo reina e as pessoas são trancadas em seus próprios corpos que, no lugar de rostos, têm fechaduras sem chave. O clima de policiamento e violência dominam a narrativa. Contada em preto e branco, a história torna o absurdo do estado totalitário ainda mais contrastante, sem floreios ou discursos amistosos. Nesse cenário um sujeito sem nome começa a agir contra o patrulhamento imposto pelo totalitário Fechadura Hernandez, em suas buscas ele descobre que pode mudar a realidade do aprisionamento em Confinópolis, mas o caminho para isso é sombrio.

 

Segue a entrevista com Raphael Araújo:

Esse é seu primeiro filme como diretor? Como está sendo a experiência de dirigir Confinópolis?

Sim, este é o primeiro filme que assino como diretor. Não me sinto à vontade com a denominação “diretor”, as pessoas esperam que você haja e seja como um daqueles estereótipos que vemos no cinema ou televisão, agindo de forma autoritária, dono do conhecimento, mandando e desmandando no set de filmagem, indo a eventos usando gola rolê. Acabo não me vendo neste perfil. Fica aquela impressão de ganhar mais créditos do que os outros que trabalharam tanto quanto você.

As produções da Camarão Filmes & Ideias Caóticas se caracterizam por possuir um caráter colaborativo onde os participantes circulam por várias funções durante as filmagens intercalando e acumulando atividades como: atuar, fazer câmera, captar áudio, fazer figurinos, dirigir cenas, fazer a luz,  escolher ângulos, enfim, inúmeras ações relativas a produção audiovisual.  A ideia vai se construindo por vários pontos de vista e isto acontece de maneira espontânea. Há uma falta de contingente no grupo, o que acaba por contribuir um excesso de demandas de trabalho, isso talvez seja um dos maiores problemas enfrentados. O grupo hoje é formado efetivamente apenas por quatro pessoas (Alex Vieira, Guido Imbroisi, Alexandre Brunoro e Eu).

Em “Confinópolis”, houve um planejamento diferente, mais detalhado, uma divisão do que cada um ficaria encarregado, almejando um nível profissional de produção. Sabíamos que o desafio era enorme e audacioso. Durante o processo, houve momentos de total certeza do que estava fazendo, direcionando as ações, vendo o enquadramento das cenas, outras vezes me perdi um pouco, ouvi os outros integrantes e até mesmo dividi a direção de algumas cenas. Por ter escrito a história estava mais atento de como seriam as coisas, mas não totalmente certo. Fiz de tudo um pouco durante toda a produção, horas de trabalho e muito aprendizado.  Apesar das dificuldades de um principiante, tudo correu bem.

Confinópolis serviu para retomar a produção audiovisual que há anos estava de lado. O vídeo é outro mundo, complexo e contagiante. A cabeça não para e o corpo também não. Compreende muitas outras linguagens, muito trabalho o envolvimento de muitas pessoas. O filme necessitou da colaboração de muitos amigos e fico feliz de tanta gente ter abraçado a causa, atuando, sendo da equipe, fazendo som, câmera, prestando uma assistência e até mesmo  na torcida para que tudo desse certo. Foi uma construção em equipe, ninguém faz realmente nada sozinho, isto me deixou bastante feliz e satisfeito. Empolgado para as próximas produções.

Como foi adaptar uma história que vc inicialmente pensou para os quadrinhos? Quais são os aspectos que vc acha melhor resolvidos para o cinema e para o quadrinho especificamente?

O vídeo e os quadrinhos possuem especificidades únicas. O vídeo é um meio que demanda inúmeros conhecimentos técnicos, envolve diversas pessoas de diferentes áreas, além de aparelhos que em sua maioria não são baratos. Os quadrinhos me parecem algo mais simples, basta ter uma ideia, um papel, uma caneta, nem precisa ser um artista virtuoso para obter um bom resultado. Acho que é algo bem livre. E essa adaptação de um mundo para outro é difícil e pode ser perigoso. Pode ficar uma merda e matar a essência, a mensagem e o clima da coisa. Em Confinópolis, a Camarão se organizou bastante, sabendo de todas essas dificuldades. A história foi escolhida por possuir uma estrutura que facilitaria esta passagem quadrinho-cinema, sem ficar em divida com o projeto inicial. Muito pelo contrário, o resultado em vídeo superou todas as expectativas. Confinópolis realmente se tornou um universo, tudo se expandiu, criou vida. Inclusive tendo uma continuidade que não aparece nos quadrinhos.

 

A violência é quase uma protagonista do filme seja a que emerge do sistema totalitário, como a que responde em contra-ataque. Nesse contexto definido entre opressor e oprimido, parece até natural o embate, mas em democracias do século XXI o pau ta comendo nas periferias e, não é de hoje que respinga no centro. Você costuma pensar sobre a violência? É um tema que aparece em seus outros trabalhos como artista?

Sim, costumo pensar sobre violência, conscientemente ou inconscientemente. Triste dizer, mas ela é comum na vida das pessoas em diferentes escalas, proporções e universos. Com certeza minhas outras produções tratam desta questão. Em Confinópolis ela aparece de forma escancarada mas em outros trabalhos de uma forma mais subjetiva.

 

Você poderia chamar a estética do Confinópolis de cinema punk?

Sim, mas é algo que vai para além da estética. Estética por estética me parece vazio e aprisionador.  Acho que Confinópolis é punk por ser feito por pessoas que são diretamente ligadas e influenciadas por este meio.

 

A Camarão Filmes começou fazendo filmes no VHS, pretendem retornar ao formato depois desse filme que é digital?

Sim, pensamos nisso porque gostamos da estética do VHS. Antigamente isto não era uma opção, era o que tínhamos no momento. Uma coisa que a Camarão Filmes põem em prática é de se produzir algo a partir do que já temos, assim não criamos expectativas e barreiras em torno da nossa produção.

 

É isso Raphael, obrigado pela entrevista… fique a vontade para dizer suas considerações finais.

Acho que já falei demais e estas últimas linhas serão para agradecer a todos os envolvidos que sempre acolheram a proposta de coração naquele velho lema: “topo tudo sem dinheiro.” Uma coisa que descobri com esta produção é que estou rodeado de pessoas incríveis, talentosas e com muita disposição.

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